Um rouxinol e o amor...

Havia um da filosofia estudante

Que cedeu o coração e se tornou amante

De uma força tamanha chamada Amor

Que só conhece quem sentir seu calor...

O Estudante pensava consigo como se daria

A solução ao impasse que a sua mente contraria...

A realização do desejo desta sua amada

Tão linda como só existe num conto de fada...

Enquanto lança palavras e lágrimas ao vento

Ouve comovido um Rouxinol todo atento,

Pois que fala o jovem, letras do seu canto

Que só entendem os do amor feridos em pranto...

Desabafa e dita a sentença da vermelha rosa

Extinta em seu jardim e seu sonho tosa

De uma noite toda com seu encanto dançar

Sem sequer ouvira as músicas sublimes a ressoar...

Não lhe cessa no rosto a salgada cascata

Caindo em seu peito que vê vida ingrata

Por esse infortúnio de uma rosa vermelha não ter

Para levar àquela que tudo irá lhe prometer...

A sinceridade vista move as asas do Rouxinol

Que voa invadindo no céu os raios do sol...

Voa para junto do Estudante com um só sentimento...

De compaixão pelo Amor e acabar o sofrimento...

O Rouxinol busca essas palavras num lindo canto

Que não entende o jovem olhando na ave o céu de manto...

O Rouxinol então voa a procurar em toda roseira

Uma tão vermelha que até a brasa não seja na fogueira...

Assim que pousa na roseira de outro jardim:

- Uma rosa vermelha lhe peço. Só por isso vim!

- Não posso. Dou-lhe uma branca como a espuma do mar!

- Não a quero. Só a vermelha pode o jovem salvar!

Insiste no vôo a procurar na casa do artista,

Ávido vai o Rouxinol sem que nada o resista...

Logo do ar avista a pequena roseira criança

Com tímidos ramos, porém vivos como a esperança...

Firma-se na cerca e logo vai implorando:

- Uma rosa vermelha para um jovem amando!

- Não a tenho. Como o cabelo das sereias leve amarela!

- Não a quero. A vermelha foi escolhida a mais bela!

Antes que alce o Rouxinol um frêmito vôo:

- Dize-me onde achar e um lindo canto entôo!

- Sem duvida to direi se cantar a Alvorada!

- Eis! Pediste logo a que mais me agrada!

E assim que o Rouxinol sua divina música encerra

Deixando mais azul o céu de toda a Terra

Ansioso se dá a ouvir sua única saída,

Confiante e certo que não haverá alma ferida...

- Onde há rosa vermelha! Sê breve e dize!

- Vou dizer onde para que teu desejo realize!

- Dize, pois a noite vêm e a hora é escassa!

- No jardim do Estudante. O que te digo faça!

- Mas a tempestade tudo devorou, ficou um só raminho!

- Irás com teu peito contra da planta um espinho!

- Morrerei por certo contente nessa última missão...

- Criarás a rosa vermelha com sangue e coração!

Enquanto volta, o Rouxinol se lembra do carvalho

Onde em seu ninho bebia gotas de orvalho...

Nunca irá se esquecer do imenso brilho da lua

Dominando plena as estrelas da noite sua...

A filosofia define tudo tão complicado...

Mas não define o simples querer ser amado...

Uma busca essencial que causa essa vertiginosa

Atitude de sangue vermelho, cor da tal rosa...

Lá está o espinho e o peito crava sem que sinta...

Aos poucos nasce uma rosa que o sangue pinta...

O Rouxinol sabe que o Amor é melhor que a vida

Embora lhe doa perder a sua tão querida...

Como o trovão no firmamento tudo estremece,

O Rouxinol sente a dor que não o aquece...

Sua luta de sangue está prestes a se findar

E nada o arrepende e o faz recuar...

O Estudante filosófico vê a cena e exclama:

- Faria isso um homem pela mulher que ama?

Não o pôde o Rouxinol ouvir essa desventura,

Seu corpo vinha no ar última vez acabar a tortura...

Jazia na relva com o espinho cravado no peito,

Em seus olhos a alegria disso ter feito

Sem dúvidas tampouco quaisquer contrições,

Sabia com seu ato dar vida a dois corações...

Num repente a rosa vermelha o jovem incrédulo vê,

Baixa os olhos até a ave e diz: - Foi você!

Só agora lhe passa pela débil mente

Como é o verdadeiro Amor que se sente...

Por certo mais difícil que entender latim,

Mas não mais difícil que a frase desse fim,

Pois que com a voz do coração exclamo:

- Amor, assim como o Rouxinol o faz, eu te amo!

• Inspirado no conto “O Rouxinol e a Rosa” de Oscar Wilde, escritor inglês (1856/1900).

Sandro La Luna
Enviado por Sandro La Luna em 02/05/2008
Reeditado em 26/11/2019
Código do texto: T971926
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