A morte do poeta - Homenagem a Pedro Nava

Homenagem ao poeta e escritor Pedro Nava, nascido em Juiz de Fora, assim como eu. Cometeu suicídio aos 80 anos no Rio de Janeiro. Pedro não quis esperar a morte, convidou-a para dançar.

A morte do poeta

Seis horas, tarde finda,

ainda que meus passos me levem

a algum lugar,

já não encontro meios de sonhar.

Estrelas brilham, lua cheia

que incendeia a ribalta.

Alta a noite ainda caminho

sozinho com meus passos

deixando espaços para trás.

Jaz a última esperança

na dança de emoções;

paixões esquecidas

sofridas lembranças

de tempos de outrora.

Demora a morte do poeta,

seta que corta a amplidão

da solidão de um ser

que viver não quer mais.

Paz, enfim.

E assim, na fria madrugada,

por sob a murada seu corpo jaz.

De quem é este corpo morto?

Toda opinião é incerta.

Mas ninguém sabe que a alma que sobe

é alma do poeta.

Mauro Gouvêa

Rio de Janeiro, março 1983