Velho Amigo

São teus esses gestos pequenos,

Serena é tua voz já cansada;

Teu belo semblante, embotado,

Sulcado por anos sem fim.

Teus olhos não brotam tristeza,

Tristeza é doença que fica

Comigo que fraco padeço

Da cisma cruel a bulhar.

Os anos de vida já foram,

Conforme assertiva confessa;

Os dias de festa que restam

Sucumbem aos dias a sós.

Queria te dar energia

Às pernas cansadas de todo

E junto de ti caminhar

O pouco de chão que te cabe.

Mas dura é a vida a ensinar,

Tão claro qual sol de verão,

Que só se padece da perda

Alguém cuja perda lhe é certa.

Enlevo-me assaz de teu toque,

Tuas sábias palavras que guardas

Aos dias inquietos que chegam,

Tornando-me calmo e seguro.

E peço do fundo do peito,

Chegado o infalível momento,

Que Deus te permita partir

Tão plácido quanto te vejo.

Éder de Araújo
Enviado por Éder de Araújo em 26/08/2008
Código do texto: T1147321
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