MUSA

Uma visão me prende.

Lá vem ela, de negro, vestida de céu

Passa por mim e seu perfume me envenena

O belo, o bonito e o formoso a acompanham

Nada mais vejo, só a presença dela.

Jeitos e trejeitos a fazem dançarina

Braços ao ar, sutileza nos movimentos

Leveza nos passos, beleza no olhar

Cabelos negros, ares de felina

Riso nos lábios, pureza feminina.

Desliza sob vestes longas a formosura

Nem me conhece mas já lhe pertenço.

É claro, nem sabe que existo,

Ser pequeno que sou, fico invisível

Não se dá conta de seu poder,

Da beleza que ao redor irradia.

Passa ao lado como se fumaça fosse

Meu olhar a segue boquiaberto,

enfeitiçado, domado, presa entregue,

Suspiro saudade da mocidade que longe vai

Estou amarrado e, ainda assim, livre para sonhar.

Disfarço o olhar, abaixo a cabeça, reverencio.

Guardo-a na mente, doce lembrança de vida

Vez ou outra me atrevo a vislumbrar o divino.

Temo o castigo, resultado de meu ímpeto

Mas que culpa tenho eu, pobre mortal

Que não sabia que, na terra,

Podíamos ter imagens celestiais,

Travestidas de mulher, num corpo de menina.

(Em homenagem à Kelly - dançarina de dança do ventre)

JD-11/03/2006 16:00