Um velho livro de emoções

Sou um livro, livro velho de histórias

Que guardo sonhos como fossem memórias

Da vida, que é minha inspiração

Página a página

Deságuo mágoas e alegrias

Amores, sonhos e noites vazias

A cada linha que escrevo

Se uma lágrima cai em relevo

Maltrata a folha de solidão

Deixando no peito um pedaço de ilusão

Já vivi muito, já chorei demais

E como louco, pus-me a discorrer, sem ais

Nesse caderno sem pautas da minha emoção

Nesse grande livro de recordação

Eu despejo com fúria, todo engano e desilusão

Nas linhas que escorrem como sangue do papel

Abundam tristezas, falta o mel

Que abranda a dureza dessa vida de fel

Que amolece o coração suspirante ao céu

E imagino como seria da luta fiel

Viver sem sofrer tristemente ao léu

Não quero fazer aliança com a amargura

Não sei o que ocorre

Só consigo escrever tais páginas duras

Que mostram dores, esquecidos amores

Cruéis abandonos e almas escuras

Queria somente transparecer ramalhete de flores

Jardins com luar, casais a namorar

Mas no meu velho livro não vejo amar

E penso se um dia consigo mudar

De hoje em diante cada página triste

Jogarei com desplante no mais longe abismo

Quero paz, quero vida, quero comemorar

Cada passo, cada golpe que a vida nos dá

Transformarei dor em semente no livro a plantar

E árvores de sabedoria virão a enfeitar

Esse velho livro que cansado está

Pois sei que o que escrevo tem como ideal

Mesmo que pareça por demais surreal

Um amor que surgirá como presente final