PARAÍSO

Há um lugar onde nasce um rio

em cuja nascente banhavam-se índios.

Onde corredeiras, que se lançando ao abismo,

dão à luz cachoeiras;

tecido de água fria que se espalha no ar formando um veu

até que encontre a rocha

e corra em riacho formando vales

cortando a terra, refletindo o céu.

Há um lugar onde tagarelam maritacas no forro do casarão, como senhoras a botar as conversas em dia.

No quintal, passeiam siriemas.

Ecoam pelas paredes seu canto triste

a me dizer pra não ir e, se for, para voltar.

Há um lugar onde estive e de onde parti,

mas meu coração quis ficar...

Há um lugar de paz, de lembranças,

de reencontro com pessoa querida;

onde o sonho se torna real

por curto espaço de tempo.

Um lugar onde o cheiro da terra gruda em nossa pele

e não sai mais.

Um lugar onde a natureza encantada se mostra;

onde a simplicidade comove nossos olhos;

onde a vida passa e as pessoas permanecem pessoas.

Um lugar onde ficou meu encantamento.

Lugar que possui dono, mas dizemos: é nosso.

Há um lugar onde ficaram meu e teu sorrisos;

onde ficou comigo a alegria da presença tua.

Onde uma criança voltou, passeou e brincou.

Há um lugar onde estive e deixei parte de mim.

Onde ficaram sonhos e felicidade.

É esse lugar que guarda grande parte da minha saudade.

Tudo ficou lá: sonhos, vida, presença amiga.

Só eu tive que ir embora.

Ah... meu São Benedito...

Porque me mostrastes em bolhas de sabão

a vida que sempre desejei? Frágeis bolhas!

Um dia, hei de soprá-las novamente;

e me perder em suas cores e aproveitar

e jogar para o ar o que me resta de juízo,

até que se rompa de novo a fina pele da realidade,

do tempo cruel, do alicerce de sonhos

que sustenta a visão do nosso paraíso.

JD - 06/04/2006 14:56

(Dedicado a minha amiga Fátima)

(Re-Postado no original, a pedido dela)