Tributo a Bocage

Por cá andaste em tempos de crise...

não obstante a corte se banhasse em ouro

e o Marquês encetasse radicais reformas

O teu olhar arguto, condoído e satírico

fazia da pena a arma de um povo,

hostilizado e faminto, bramindo a impotência

E tu poeta, detentor de tamanho talento,

no pleno uso da tua audaz eloquência

denunciavas e muitos incomodavas

com o teu cunho de maledicência.

No lirismo dos teus etéreos e luminosos versos

exaltaste a candura e beleza dessas Musas,

recatadas e púdicas donzelas que inspiraram

e atormentaram o teu prazer boémio e devasso

Em teus caminhos sinuosos e censurados,

pela lâmina contestatária da dialéctica,

estendeste a Língua Pátria aos confins do Oriente.

Emotivo, arrebatado, precário nas relações,

corolário do seu fado, ignóbil destino,

apologista da solidão maltrapilha e indigente,

em clausura pelo sistema e Inquisição,

amante devotado da morte pela libertação...

Tu que nos honraste e cresceste no soneto

Seja teu espírito livre de opressão!

Fana
Enviado por Fana em 07/09/2009
Reeditado em 17/09/2009
Código do texto: T1797733
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