O QUE SERÁ (DE TODOS NÓS)

...em homenagem à belissima música de Chico Buarque

O que será que será

que entorta meu corpo

de água fria

que enche a minha boca

de hipocrisia

que desaba meu peito

num descontento

e encerra minha dor

e não vem de dentro

apaga o meu suor

reduzido ao leito

E acalma meu sossego

num grito meigo

anula uma vontade

de ser direito

Retira o meu desejo

de pensar, respirar

O que será do todo

de um nó virado

de um corpo cansado

um nada embutido

O que será do povo

sem toda gente

O que mata meus limites

de água quente

Sufoca o ar doente

queima por fora

Uma agonia sempre

que não vai embora

Amputa os meus defeitos

que faço agora?

Por tantas injustiças

que andam bambas

Pelos netos e filhos

da mão do samba

Que dançam em silêncio

a pior das danças

Têm medo do amanhã

pobre de esperança

Que será do grito

que arde em vingança

Atrasa meu sorriso

numa espera mansa

Arrasa com as mães

e os pais enterrados

Pulsa nos dedos firmes

e injustiçados

E o coração poroso

ora alagado

E um fim experiente

e inesperado ...

cansado do chicote

e do amarrado

do corpo e da ferida

encravejados

Que será do medo do escuro...

e o que será de mim...?