Simplicidade

Em memória de

Wandré Rúbio Pereira da Silva (21/07/1990 - 10/03/2010)

Uma coisa estranha repousou em minha alma

Amanheci estranho e opaco

Lembrei-me da despedida infante de um aluno

Ele foi chamado cedo demais,

Não completou sequer duas décadas

Sua morte foi a minha morte

Lembrei-me dos que já se foram e que amava de montão

Meu pai, minha mãe, minha avó, um grande amigo...

Não posso negar que uma sensação ruim entrou pelas minhas veias

Um cheiro de flor molhada encontrei em meu nariz

Minhas mãos secaram e senti o sertão baiano ardendo em mim

O meu pescoço endureceu e com ele uma dor irresistível paralisou meus braços

Algumas fincadas nos pés fizeram-me deitar

Entreguei o jogo e os pontos

Por tempos me peguei na posição fetal

Saudades, muitas saudades sinto agora daqueles que encontraram Deus

Curioso, mas eles não tiveram tempos de despedida

Penso que não poderiam ter o direito de ir sem o a(Deus)

Sou obrigado a culpá-los pela dor que me consome

Pelo sono que não tive à noite

E pela péssima manhã antes e depois do almoço que deixei

Agradeço, contudo, por ainda estar me sentindo humano.

Meio torto, mas estou

A partida meio louca, meio sem hora do jovem aluno é mais do que um sinal

Perdemos em algum lugar o essencial da vida

O sentido de viver

Não agradecemos em tempo

Desistimos de falar “eu te amo”, ou “foi bom lhe conhecer”

Morreremos a cada dia um bocadinho

E não paramos para perceber a chuva feia, grossa, e dura que está por cair na cabeça

Réus confessos de graves crimes, esperamos a hora boba chegar

Estaremos solitários

A presença da lembrança do jovem aluno parou-me

Estacionei o carro

O sinal fechou,

Desisti de correr

Há coisas mais importantes a ver, perceber, ler, sentir

O outro me faz falta

Afeta o afeto que reprimo

E somente após os acontecimentos já definidos

Tive a consciência de parar, chorar e esforçar por re-significar

O fantasma, contudo, é teimoso e me visita por horas

Lembrei-me da minha pouca vida de antes

E pensei que não posso ter certeza do amanhã que será depois.

O nunca mais me mata

Morro a cada dia em saber que desperdiço a vida por coisas efêmeras

Preciso de minha mãe e de sua eterna lembrança

É ela quem me dizia para ir devagar e que a vida é simplicidade

Não posso mais dizer isso ao meu jovem aluno.