A André Bordalo, assassinado no Rio de Janeiro
(A André Bordalo, assassinado no Rio de Janeiro)
Enormes blocos de cimento
Cortados pelo vento
Ladeiam o areal
como quadros, pincelados de gente
e gente
ali reside, copula e
veraneia, contente.
Em Copacabana, morre
o turista de Portugal, na praia,
estudante, engenheiro
aeroespacial
prostra-se de horror a areia
ferida no branco do lençol
Continua serena, a manhã
como serena é a sombra,
oculta,
no vício e desdém
mas prenhe na determinação
tumula
da mochila e do haver
de alguém
Crava-se a morte na faca
que a transporta ao pulmão
Como é cara a vida
e tão barata
que se desprende no apunhalar
da mão
Contínua, serena, amanhã...
Luís Monteiro da Cunha
Maia, Portugal
2006-08-16