Renato Russo

Sim, Renato, você partiu,

Todos os dias quando acordamos,

Não temos mais o tempo que passou,

E nem mais sua criação que todos adoramos.

Ainda que falássemos a língua dos anjos,

Saberíamos que os bons morrem jovens,

Assim parece ser, a todos esses que pranteamos,

Afinal de contas, não somos mais tão jovens, tão jovens.

Todos os dias antes de dormir,

Me esqueço e lembro como sua canção foi um dia,

Nossos amigos ainda procuram emprego para suprir,

As necessidades financeiras, já que a felicidade é uma mentira.

E quando o sol bate na janela do quarto,

Procuramos nem que seja um 3 por 4 seu,

É tão solitário andar por entre a gente nesse mundo ingrato,

É só o amor, é só o amor que não arrefeceu.

Quando partiu eu dizia ainda é cedo,

E que país é este que permite perdê-lo,

Thanatos veio sem nenhum receio,

E meninas e meninos gostam de ti, isso não é segredo.

Do que é amor ficou o seu retrato,

E a saudade dói, e a dor é maior do que parece,

Mas mentir pra si mesmo é fácil demais, Renato,

Há tempos descobrimos a medida da maldade, não esquece.

Que festa mundana estranha e esquisita,

A geração coca-cola se dissolve no petróleo gaseificado,

Nós somos os marcianos nessa terra sofrida,

A matemática dos amantes você nos deixou como legado.

Sempre precisaremos de um pouco de atenção,

Eu acho que já sei quem não sou,

Caminhando em busca da não realizada perfeição,

Soldados pedindo esmolas de recordações que deixou.

Dai-nos de beber porque nossa sede de você é sem fim,

Mesmo sem te ver, acho até que tentamos ir bem,

Noutro dia desenhei toda a calçada com um pedaço de giz,

Alguns trechos de letras pude gravar e a chuva apagou com desdém.

Renato, Renato, Renato, o que fizeram com você?

Tentamos nos equilibrar entre dias e noites,

Mas existe um descontrole que corrompe e cresce, eu sei,

Não sei o que fizemos de nossas próprias vidas nos dias de hoje.

Celebramos todo dia a vida e você amigo,

Às vezes quero que saia de mim, que eu não quero mais saber de você,

Mas hoje, como se não houvesse amanhã, amar é preciso,

Mesmo sabendo que alimento pra cabeça não matará a fome de te querer.

E se voltássemos a viver como há décadas atrás,

Garanto que cada hora passada envelheceríamos um milênio,

Se o mundo parece com o que vejo, prefiro crer num mundo em que você está,

E tirar você das nuvens e trazê-lo para pousar os pés no chão do nosso mundo terreno.