RETRATO NOSTÁLGICO

A casa de Sá Jovem

era mais simples

que a própria simplicidade.

Era um barraco

nos fundos da casa de alguém.

para ir lá passava-se

em um estreito corredor.

Passava-se por um cão policial

que latia feito

como cão algum latia.

Doía os ouvidos aquele latido.

O estômago doía de medo

do enorme cão.

No casebre havia quarto,

sala e banheiro.

Na sala, um cristaleira

que guardava bibelôs

de cerâmica e papel.

Não havia cristal algum.

Havia só amor

naquele lugar

como nunca houve

na casa de ninguém.

Um dia chegou a notícia:

Sá Jovem deitou-se

para descansar à tarde e dormiu.

Dormiu para acordar

no Palácio de Deus.

Apanhei então um botão

na roseira e coloquei no copo

Nadir Figueiredo.

Minhas lágrimas

que chorei tanto

o encheram

e o botão desabrochou

em rosado encarnado.

Eu nunca deixei na memória

este quadro abandonado.

L.L. Bcena, 10/06/2010

POEMA 200 – CADERNO: CHEGADA NO PORTO.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 01/06/2011
Código do texto: T3007414
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