Manhas do inverno
Somente no inverno valorizamos franzir a testa, felizes, ainda, apertamos os olhos pela claridade de um dia timidamente ensolarado.
Nossas vontades vão ao encontro de cafeterias, onde somos duplamente recompensados: o palato por gulodices escondidas, típicas da estação e por segurar uma xícara carinhosamente quente.
O calor dos abraços espanta a timidez.
O frio nos torna mais humanos, nos identificamos mais com os outros.
Nossa percepção é alterada - a cama torna-se um universo paralelo onde após passamos confortavelmente a noite, dormindo de conchinha com vários cobertores, e os travesseiros parecem implorar nossa continua companhia.
Dispostos a dormir mais, a valorizar o pijama, temos vontade de pipocas e filmes antigos.
Hibernamos acarinhados das pessoas que mais amamos.
Não considero o inverno uma estação fria, e sim uma estação manhosa, uma estação mal compreendida.