Uma Noite na Terra da Poesia

Era 1695, e nem a história dessa terra poética ainda se fazia história. Porém, muito sangue nessa terra já havia sido derramado, formando um rio avermelhado sobre essa região. Sangue guerreiro, defensor, sangue Janduís. Todavia, em mais uma das noites escuras nesse sertão, um índio escondido sobre as cactáceas, escutava o temor de seu povo, fogueiras e tochas guiavam os invasores mata adentro. Os barulhos, e gemidos de dor, sussurros e gritos ecoavam como assombro pelo grande vale. Aos poucos, nada mais se escuta a não ser o último suspiro daquele bravo povo que ainda buscava persistir, à aqueles que infelizmente eles não podiam vencer.

Ainda era noite, e novos sons podiam ser ouvidos, homens brancos bem vestidos, expedicionários, margeavam a esquerda do rio ainda sem nome, mas futuramente chamado Piranhas. Foi nessa margem fértil que nasceu o Arraia de Nossa Senhora dos Prazeres.

A noite já se ia, e madrugada começava com nascer de uma história Viva. O tal Arraia foi crescendo e junto a ele bases militares foram se instalando. O domínio e aldeamento dos selvagens alavancavam ainda mais o modesto lugar que antes do alvorecer já se tornará o conhecido povoamento de São João Batista da Ribeira do Céu. Dessa terra em que tudo dava à pecuária e a exploração da cera da carnaúba tornaram o povoado em Vila e a vila em cidade outorgada em, 16 de outubro 1845, a partir de então, naquela madrugada vi brotar, uma nova terra, iluminada pelo amanhecer de um novo sol irradiando suas bênçãos sobre a nova cidade.

Já era manhã, ainda não muito claro, mas via um povo formado, erguendo aos poucos aquela cidade, trabalhadores, feirantes e moradores cruzavam-se nas feiras livres, próximo aos casarões e a Igreja de São João Batista padroeiro do lugar.

A cidadezinha continuava a florescer: escolas, igrejas, praçinhas para namorar, e quando o dia começou a esquentar as meninas já começavam a se aprontar para logo mais a noite, se danar para os arraias, dançar quadrilha matuta cada uma com seu par, todas faceiras, brejeiras querendo namorar. Os festejos por aqui começavam cedo, só para homenagear no mês de junho o padroeiro desse lugar, e muitos dizem que mais antigo do que esse não há.

Já ia entardecendo e não conseguia mais enxergar aquela acanhadinha cidade, via agora muitas luzes iluminando aquele lugar, na Praça São João avistei e escutei de longe poetas recitando, outros proseando nos bancos, todos a discutir e falar mostrando a sua arte e forma de pensar. Sandoval Wanderley puxava os versos e prosas, encantado a todos que o ouvia. E a partir daí vi forma-se em cada canto, um recanto cheio de prosa e a cada esquina, um trovador, um artista, alguém nascendo para a poesia.

A noite chegava, mas ainda avistava o sol se pondo sobre o horizonte alaranjado, nessa hora pude ver sobre os últimos raios do astro rei as tuas riquezas naturais, onde muitas continuam intocadas, veladas por nossos guardiões naturais: os baobas, os inúmeros mananciais e nossas terras vestidas de esperança que fazem florescer em nossos corações a promessa de um dia melhor...

Quando anoiteceu, eram apenas as luzes que eu podia ver. Daí, comecei a compreender depois de passar esse dia aqui, que tu és Assú a terra da Poesia, da metamorfose, da política, da religiosidade e devoção, da carnaúba, da cerâmica, da agricultura e do desenvolvimento.

Essa és tu minha amada cidade, que vi crescer e florescer, onde, hoje e sempre te verei com os olhos da alma e da poesia, pois, foi contigo que aprendi a ser poeta e hoje guardo em meu ser, sua cultura e sua verdadeira alma imposta em cada detalhe vivo sob forma de conto, nessa expressão singular.

Arthur Luz
Enviado por Arthur Luz em 27/12/2011
Reeditado em 03/01/2012
Código do texto: T3408266
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