QUANDO OS SANTOS SE VÃO
Não sei por que os santos sempre parecem partir cedo demais
nos deixando tristes e órfãos
Quando se vão nos deixam menores do que éramos
Talvez seja egoísmo ou insegurança
Mas em um mundo permeado pela mediocridade e corrupção
não quero ficar sem alguém piedoso por perto
Os baluartes da igreja talvez não estejam nos púlpitos, vestidos elegantemente
Talvez não sejam os eloquentes oradores que bradam no rádio e na televisão
Quem sabe não os encontremos escrevendo poeticamente
ou destilando precisos postulados doutrinários
Talvez estejam onde ninguém os procura:
nos apertados e anônimos quartos de oração,
nas enfermarias abarrotadas de gente, dor e solidão
nas visitas diárias aos encarcerados
ou quem sabe em um canto esquecido de um grande templo religioso
Talvez nunca sejam reconhecidos pelos homens
Mas Deus um dia dirá que o mundo deles não era digno
(em memória de Maria Zuila Batista, uma santa anônima)