ELEGIA A ZILA MAMEDE
Eu quero condenar aquele mar
que tentou carregar a minha diva
para aprisioná-la, ainda viva,
com todo seu poema secular
no mais profundo abismo colossal,
e quis o conteúdo do seu verso,
em imprudente intento mineral,
retê-lo para sempre e sem reverso.
Ele tramou levar da potiguar
mais que o cotidiano privilégio
de ter o braço amado, forte e régio
daquela que na vida soube dar
a plena devoção sobre o papel,
e fez a tradução que um escultor
faz com a sua mão e seu cinzel
para ritmar a voz de um orador.
Ao ver no vento o verde feito Apolo
ou ora tal qual onda esplendorosa
se espraiando a agitar a gloriosa
superfície da cana presa ao solo,
a nova palmeirense perguntou:
“Meu pai, isso é o mar?” E um pronto: “Não,
é um canavial”, lhe reportou.
Porém, não lhe causou desilusão.
Ela fundia ao corpo o azul imenso,
cantava da maré toda pujança
e, junto com seu mundo de criança,
dava também ao campo amor intenso.
Daquele dualismo de paixão,
a Netuno mais perto quis estar,
mas sem nunca esperar qualquer traição
qual foi a ingratidão de lhe ceifar.
Eu quero condenar aquele mar
e não posso prendê-lo. Sou pequeno.
Mas o que me consola o meu cantar
é poder relembrar que aquele aceno
só deixou solidão ao seu algoz,
que não tem mais nas tardes sua musa,
pois Zila com seu verso em minha voz
sempre em mim viverá mesmo reclusa.