João Cabral de Melo Neto

Meu caro João,

Dono do cão sem plumas

Dos retirantes surrealistas

Um belo engenheiro da poesia

Amado poeta do sertão,

Da luz balão!

Enterra os ossos com a lâmina da faca

Germina a poesia popular

Na educação pela pedra

Nada de tradicionalismos

Nada de convencionalismos

Retira o relógio da gaiola

Esquece o regimento

Come os versos, as estrofes

Lança assovios e flores

De um arquiteto da luz livre

Toma umas aspirinas

Abusa das rimas

Das vidas divinas toantes.

Do fazer poético

No catar feijão

Tecendo a manhã

Com a Morte e vida Severina

Semeando a poesia no sertão

Deixou seu coração

E a esperança do amanhã.