Minha tia ameríndia.
Tarde de domingo.
Sentado na praça,vejo raros transeuntes indo ou vindo.
Preciso desses momentos em que,da presença de meus contemporâneos,
prescindo.
Então inquieto,me levanto do banco e ando meio trôpego
pelas ruas,enquanto uma folha seca me amua,
derrubada da árvore pelo Maio insano do ano,
enlameado na periferia.
Agonizam as cores do dia.
O vento sopra a folha e leva consigo o meu pensamento,
friorento.
E acorda a imagem da minha tia ameríndia silenciosa,
aquela que dos rigores da vida,
lia sempre a perspectiva mais preciosa.
Seu riso tingia de azul o céu para as aves,
Isso fazia a minha eventual tristeza mais suave,
E o que era fragmento,tornava-se plenitude,
Nunca ouvi o sonoro adeus de sua juventude,
A saga de seus antepassados nordestinos,
campesinos,
estórias contados com riso sério,
compassadas de mistérios,
perdidas na linha do horizonte,
São destinos infindos de anteontem de ontem.
Então cai a chuva fria,
Ouço com clareza,
a realeza da voz dolorida de minha amada tia.
Então,piso forte,
Na determinação dos meus antepassados do Norte,
Rumo ao desconhecido de toda a gente,
Ao encontro do meu próprio poente,
Queria que ela soubesse o que sente,
Esse seu sobrinho sempre tão ausente,
E a lição que me passa essa saudade,
Sobretudo,a coragem,
Para nunca lastimar na vida,
a sua brevidade,as suas ausências doloridas,
Antes,
Fazer sempre da forma mais generosa,essa viagem.
Barthes.