Minha tia ameríndia.

Tarde de domingo.

Sentado na praça,vejo raros transeuntes indo ou vindo.

Preciso desses momentos em que,da presença de meus contemporâneos,

prescindo.

Então inquieto,me levanto do banco e ando meio trôpego

pelas ruas,enquanto uma folha seca me amua,

derrubada da árvore pelo Maio insano do ano,

enlameado na periferia.

Agonizam as cores do dia.

O vento sopra a folha e leva consigo o meu pensamento,

friorento.

E acorda a imagem da minha tia ameríndia silenciosa,

aquela que dos rigores da vida,

lia sempre a perspectiva mais preciosa.

Seu riso tingia de azul o céu para as aves,

Isso fazia a minha eventual tristeza mais suave,

E o que era fragmento,tornava-se plenitude,

Nunca ouvi o sonoro adeus de sua juventude,

A saga de seus antepassados nordestinos,

campesinos,

estórias contados com riso sério,

compassadas de mistérios,

perdidas na linha do horizonte,

São destinos infindos de anteontem de ontem.

Então cai a chuva fria,

Ouço com clareza,

a realeza da voz dolorida de minha amada tia.

Então,piso forte,

Na determinação dos meus antepassados do Norte,

Rumo ao desconhecido de toda a gente,

Ao encontro do meu próprio poente,

Queria que ela soubesse o que sente,

Esse seu sobrinho sempre tão ausente,

E a lição que me passa essa saudade,

Sobretudo,a coragem,

Para nunca lastimar na vida,

a sua brevidade,as suas ausências doloridas,

Antes,

Fazer sempre da forma mais generosa,essa viagem.

Barthes.

BARTHES
Enviado por BARTHES em 21/04/2013
Código do texto: T4252575
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