Não deixe o poeta morrer.

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O poeta precisa viver e escrever. O seu grito contra a injustiça, o seu sussurrar ao pé do ouvido, o seu gemido de prazer ou até mesmo de dor, não podem acabar... Desperta, poeta vem amar.

O poeta está se encolhendo e se calando, está desmotivado, talvez mesmo, enjoado, nesse momento, precisa ser chacoalhado.

Acorda poeta, olha para o mar, para o céu azul ou quem sabe... cinza, busque a tua inspiração de outrora. Não entregues os teus pontos, a luta continua, e cada dia vale um conto, e a hora é agora.

Veja a criança sorrindo ou até pedindo esmolas, coçando a cabeça suja ou mesmo cheirando cola. Venha logo, registra tudo, não percas a tua hora.

Não permitas que o egoísmo do mundo, o descaso com os que sofrem os “velhos engodos de Brasília” tirem o melhor de ti, o saber que há em ti, a tua sinceridade e o prazer de sentir.

Quero ser levada pelas letras, vou surfar em meio às palavras rimadas ou não, quero voar entre estrelas piscantes ou talvez, em um ato de liberdade, ir ao encontro do sol como Ícaro, foi, só pela alegria de pairar sobre as nuvens carregadas, mesmo que depois eu caia com as asas quebradas e queimadas.

Acorda, poeta! Solta a corda que te amarra, não me venha falar de entrega, desistir não é teu forte, deves lutar e enfrentar a morte com a tua sorte.

A vida te chama a cavalgar com braços enlaçados às asas de Pégaso, seja imortal assim como ele, tu és atemporal, não envelheces... Só nos enriqueces.

“Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho. Suave é o aroma dos teus unguentos, como unguento derramado é o teu nome;...” já dizia o sábio Salomão no livro de Cantares, e encantava a todos, sem se importar com sobrenome.

O poeta é o lenitivo para os desesperados e desesperançados, ele vê beleza num pássaro voando, num cão que ladra, na criança dormindo, vê beleza no ancião que sentado à praça, lhe acena, sorrindo.

O poeta não morre, o poeta revive entre as cinzas, dorme todos os dias e sonha... Sonha com um mundo melhor, sonha, mas acorda para registrar o que viu, vê e ainda verá.

Acorda, poeta, o dia está a raiar!

Texto escrito ouvindo Cazuza -“O POETA NÃO MORREU” – 2005