RAINHA DO PAGO

Deus, o Supremo Patrão

da nossa Estância Divina,

resolveu fazer a china

da costela do índio Adão

e pôs neste meu rincão

chinedo de todo o pelo

todas de lindo cabelo

solto ou mesmo de trança

e deu-lhes como herança

o taura cru por sinuelo.

Chinocas deste meu pago

sois um cetro em realeza,

portentoras de beleza

nascidas assim, pro afago,

pois eu, um mesticito vago

que não respeito rodeio

sinto-me preso no enleio

da rede deste teu olhar,

que sinto querer falar

entre suspiros de anseio...

Este teu cabelo lindo

negro como o picumã,

parece até uma manhã

que no pago vem sorrindo,

ou quando loiraço infindo

parece trigo maduro,

pois cada cacho eu juro

ficará na eternidade,

sendo um mito de verdade

pr’algum xiru em apuro.

Este teu rosto lindaço

inspira tanta ternura,

pois quanto coera que jura

e joga a vida num puaço,

somente por um abraço

e algum beijito escondido.

Então se sente embebido

entre muitos beijos dados,

daqueles lábios rosados

que deixam o índio perdido.

Estes teus olhos brejeiros

tal qual a manhã nos pagos,

quando azuis eles são tragos

que me embriagam ligeiro;

quando verdes são matreiros

deixam esfaima dorida;

quando castos a bebida

que esta minha sede mata;

quando negros a cascata

que rega esta minha vida.

Esta tua boca sedosa

por quem eu suspiro tanto.

Quantas vezes já fiz canto

quando te vi assim medrosa

somente para ouvir a prosa

de teus lábios suspirada,

que deixa esfaima enlaçada

ao teu cantar tão altivo,

por quem já me fiz cativo

e minh’ alma anda penada...

Este teu colo bendito

que suspira compassado,

são dois cerros, lado a lado

apontando pro infinito,

quando campereio solito

levo na imaginação,

recordar com emoção

horas passadas contigo,

e ao pontear o pinho amigo

tua cintura tenho em mão.

China bendita, lindaça.

Charrua, índia, castelhana

ou mesmo sendo açoriana

tua descendência é a raça

que sempre trouxe com graça

a beleza para o afago.

Quantas vezes eu me trago...

apresilhado ao teu laço,

só para ter um abraço,

teu, Rainha do meu pago.

Tapejara Vacariano
Enviado por Tapejara Vacariano em 05/08/2014
Reeditado em 05/08/2014
Código do texto: T4911333
Classificação de conteúdo: seguro