POETAS DO TEMPO

Aos meus poetas favoritos (Quem não tem os seus?)

Lanço agora meu olhar na esteira puída do tempo

Vislumbro-os como sempre

Nos rasgos criativos de vossas almas

Revisito Bilac, que marcou minha leituras iniciais,

Com seu rigor métrico

E suas metáforas rebuscadas, rangentes

Ouvindo estrelas

Vejo F. Pessoa, a grande descoberta, no seu sobretudo

Andando obliquamente pelas ruas tortas de Portugal

Do começo do século 20, ainda rural e triste

Suas ruas são vielas das galáxias e do universo,

Sempre ele, a cara de Portugal,

Atormentado, seguido por várias sombras

Olho Drummond, obrigatório, observando o mundo

Do alto do seu ceticismo

Numa praça tristonha de Minas, cercada de minérios de ferro

No fim da tarde, tomada por sinos roucos

Olho Bandeira, a quem o verso moderno me foi revelado,

Agarrado à impulsão lírica

Escrevendo dócilmente sobre a condição humana

No lirismo libertador contra a ordem subalterna do romantismo

E ao purismo passado e seus desafetos

Enquanto a vida tenta devorá-lo em vão

De Leminski, o mais próximo do meu tempo feérico,

Tomo-lhe um cigarro emprestado

Enquanto observo-o driblando a realidade e afiando as palavras

Transverberando-se na degradação, na negação, com sua engenharia

Visual e inovadora debaixo do tapete velho do concretismo

Onde ele aprisiona o cotidiano do qual tudo é refém

Para ser transformado nas suas poesias estiletes e universais

Que dizer de Clarice? Esta deusa, que se liquefaz e se esparrama seu ser em sua própria poesia, entrecortada e transfigurada.

Quem teria amado mais que Clarice Lispector o amor que nunca existiu?

Quem tentou explicar o oculto, o não entendível, o inexplicável do que ela em seus incontáveis conflitos, que a levaram-na à desembocar na sua poesia densa e forte?

Um aviso. Nunca tente entender Clarice, pois seus versos são ela mesma. Assim apenas a ame.

Eu quando a vi, a amei mesmo sem esperar qualquer correspondência.

Estes são meus poetas que andam comigo de mãos dadas!

Sem falar de Florbela e seus versos tristes e amorosos que cantam a incompletude da fêmea incompreendida de um Portugal conservador que ainda existe.

Mas cujos versos a erosão do tempo não consegue corroer,

Que saudade quando a lia nos meus 18 anos!

Não minto quando digo que os invejo a todos e que ando por seus versos ora soturnos, ora estridentes, ora fagulhares, nas noites, nos momentos íntimos da alma, nos intervalos, os interstícios, que a vida me possibilita.

Procurando a mim mesmo nos seus desassossegos eternos e tumulares!

Ah poetas, vocês me levaram a descobrir que vocês não morrem, perduram por seus versos acima da lei do nascer-viver-morrer.

Que bom que assim seja!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 21/06/2015
Reeditado em 01/10/2017
Código do texto: T5284611
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