Poema-Resposta a Manuel Bandeira
Pois é, Bandeira,
O Recife da minha infância
E da minha adolescência,
Não é o mesmo que o teu.
O meu Recife agora
É cheio de arranha-céus,
De grandes avenidas,
Com nomes Dr. Fulano de Tal,
Seus muitos automóveis,
Mais novos, sempre iguais,
E de ônibus lotados,
Para os trabalhadores que não têm carros,
E não vieram da zona rural.
Pois é, Bandeira,
O meu Recife agora
Não é mais província;
É metrópole,
Um centro Cultural,
Onde se tem o Galo da Madrugada
Maior bloco de Carnaval,
Maracatu, frevo, ciranda,
Que faz brilhar o nosso povo
Nesse país preconceituoso
De um povo sem-igual.
O meu Recife, Bandeira, mesmo agora,
Ainda tem um pouco do teu;
Tem a Rua da União,
Onde tu brincavas de chicote-queimado,
Tem ainda a Rua da Aurora,
Onde ias pescar escondido,
E a da Saudade,
Onde ias fumar escondido,
O Rio Capibaribe,
Capiberibe,
E as belas e antigas pontes,
Por onde eu sempre passo
E olho no rio - mesmo rio -
O céu refletido.
Bandeira, não tem hoje a inocência
Como tinha na tua época,
Onde as crianças brincavam no meio da rua,
Tranquilas até estar alta a lua;
Agora se tem mais violência
Nas periferias e nas favelas.
E o terror em alguns rostos medrosos
Que não saem de casa depois da meia noite.
- perdem sempre a bebedeira nos bares do Recife Antigo -
Bandeira,
Nosso Recife mudou...
Mas não o teu amor,
Nem o meu,
Tenho certeza.