Poema-Resposta a Manuel Bandeira

Pois é, Bandeira,

O Recife da minha infância

E da minha adolescência,

Não é o mesmo que o teu.

O meu Recife agora

É cheio de arranha-céus,

De grandes avenidas,

Com nomes Dr. Fulano de Tal,

Seus muitos automóveis,

Mais novos, sempre iguais,

E de ônibus lotados,

Para os trabalhadores que não têm carros,

E não vieram da zona rural.

Pois é, Bandeira,

O meu Recife agora

Não é mais província;

É metrópole,

Um centro Cultural,

Onde se tem o Galo da Madrugada

Maior bloco de Carnaval,

Maracatu, frevo, ciranda,

Que faz brilhar o nosso povo

Nesse país preconceituoso

De um povo sem-igual.

O meu Recife, Bandeira, mesmo agora,

Ainda tem um pouco do teu;

Tem a Rua da União,

Onde tu brincavas de chicote-queimado,

Tem ainda a Rua da Aurora,

Onde ias pescar escondido,

E a da Saudade,

Onde ias fumar escondido,

O Rio Capibaribe,

Capiberibe,

E as belas e antigas pontes,

Por onde eu sempre passo

E olho no rio - mesmo rio -

O céu refletido.

Bandeira, não tem hoje a inocência

Como tinha na tua época,

Onde as crianças brincavam no meio da rua,

Tranquilas até estar alta a lua;

Agora se tem mais violência

Nas periferias e nas favelas.

E o terror em alguns rostos medrosos

Que não saem de casa depois da meia noite.

- perdem sempre a bebedeira nos bares do Recife Antigo -

Bandeira,

Nosso Recife mudou...

Mas não o teu amor,

Nem o meu,

Tenho certeza.

André Espínola
Enviado por André Espínola em 19/06/2007
Reeditado em 19/06/2007
Código do texto: T532509
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