O VINHO E O POETA

Brotavam pedras verdes de musgo atapetadas

e o santo sol, alvoreando a ribanceira,

desfilava sobre os tufos de carqueja amarelada;

a calma mais queimante do verão, tão prazenteira.

Então, por entre aluviões e gretas se espremia

o broto de uma videira quase sem terra enterrado;

ao ver o agreste pinho soberbo, a si dizia:

Posso não ser gigante, mas darei mil frutos adoçados...

Cingidos pela luz da primavera

nasceram cachos doces como afagos

e fulgurava a vindima em verdes bagos

protegidos pelos rochedos das procelas .

Mas eis que homens chegaram ao vinhedo

e encheram os balaios com a ambrosia;

num vinhatório, por detrás d'um arvoredo

pisaram finos cachos, segredos da alquimia.

Tempos depois, nos galpões de dornas e lagar,

fermentava a bebida, ressonando Baco;

dos tampões das pipas escorria o néctar

e gentes do lugar vinham atestar o fato.

Entre os sabores de Málaga borbulhante

brindaram todos. ---Não deixai que nada sobre!

E gravaram-se nas pipas para os tempos adiante

o nome da mais fina e pura casta: J.P. NOBRE

Ao grande poeta e amigo José Paulo Nobre

Chaplin
Enviado por Chaplin em 21/06/2007
Reeditado em 24/06/2007
Código do texto: T535763