Véia Luca
 
Lá para as bandas da estação Ypê,
Posto de troca da velha Mogyana.
Perto daqueles casebres de sapé,
Num chão coberto de paina.
 
Às margem do velho riacho,
Onde a lavadeira cantarolava,
Até ouvir o apitado rio abaixo,
Da Maria Fumaça que aproximava,
Pelo trilho que se desenhava,
Na mesmas curvas daquele regato!
 
Lá praquelas bandas,
Se via uma senhora toda bem vestida,
Que morava no casarão perto da estrada.
Morena alta e de face sempre contida,
À dar ordens sempre respeitadas!
 
Naquele tempo, era cercada de vários escravos,
Mas ao contrário que se podia pensar,
Não eram tratados com descasos,
E sim com respeito, pois a eles nada podia faltar!
 
Véia Luca, era assim conhecida pela região inteira,
Dona de todo aquele pedaço de chão.
Aos domingos, ia com seus escravos na liteira,
Na missa de Imaculada Conceição.
 
E quando adoeceu, fez logo um testamento,
Doando parte de suas propriedades.
Uma para o lar dos velhinhos enfermos,
O que foi um grande ato de caridade.
 
A outra parte para sua cuidadora,
Uma escrava de sobrenome Pinheiro.
Ciente que sua mantenedora,
Dedicava-lhe afeto por inteiro!
 
No entanto, uma tragédia sucedeu!
Véia Luca, em sua cadeira de rodas,
Findou sua vida num fogo que lhe envolveu.
E medida nenhuma pode ser tomada!
 
A cuidadora foi logo acusada!
E um processo foi instaurado,
Mas a acusação foi considerada infundada,
E a demanda então foi arquivada.
 
E hoje o tempo já é passado,
E a história fica cada vez mais fantasiada!
E as terras dos Ypês que guardam esses fatos,
Estão cheias de asfalto, tijolos e mais nada!
Luciano Becalete
Enviado por Luciano Becalete em 15/12/2015
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