Ângelo

Que dias passamos por ti na cama

Até a data do aconchego da ida

Até a sua cegueira total para a vida

E o tempo se foi com a sua prostração

Minha mãe sofre, sofre e se cala

Dez anos que me impediram de te ver

Meu desinteresse por uma breve história sua

Datas que hoje sei que perdi quando se foi

Todos esses anos mofados e imóveis sem cura

Da minha indolência e juventude de enganos

A minha incoerente busca numa adolescência sem família

E você o tempo todo sem ninguém para conversar

Sem olhos para as letras desde sempre

Sem olhos para a luz na velhice

Uma vida de sofrer e alegrias resistentes

Minha mãe, sua herança

Minha vida, e nela sua lembrança

No escuro que viveu, pelo tempo que sofreu

Esses versos são seus

Que viveu sem letras

Sem riquezas

Sem luz, e no fim sem fala

Esses versos desengonçados e vibrantes

Em nome do que foi para nós

Obrigado Vô, pelas inúmeras saúdes e fortunas.

Natal
Enviado por Natal em 02/07/2007
Código do texto: T549219
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