Ângelo
Que dias passamos por ti na cama
Até a data do aconchego da ida
Até a sua cegueira total para a vida
E o tempo se foi com a sua prostração
Minha mãe sofre, sofre e se cala
Dez anos que me impediram de te ver
Meu desinteresse por uma breve história sua
Datas que hoje sei que perdi quando se foi
Todos esses anos mofados e imóveis sem cura
Da minha indolência e juventude de enganos
A minha incoerente busca numa adolescência sem família
E você o tempo todo sem ninguém para conversar
Sem olhos para as letras desde sempre
Sem olhos para a luz na velhice
Uma vida de sofrer e alegrias resistentes
Minha mãe, sua herança
Minha vida, e nela sua lembrança
No escuro que viveu, pelo tempo que sofreu
Esses versos são seus
Que viveu sem letras
Sem riquezas
Sem luz, e no fim sem fala
Esses versos desengonçados e vibrantes
Em nome do que foi para nós
Obrigado Vô, pelas inúmeras saúdes e fortunas.