Obrigada, mãe.
Quando eu era criança
Minha mãe costumava me levar a lugares
Que não eram nossos.
Para andar em estradas
E ver casas que nunca foram nossas.
Subíamos em montanhas, pulando a cerca
E invadindo as terras de outros.
Mas os outros não se importavam.
Eu achava que era porque ela não tinha nada de nosso para me mostrar.
Nenhuma propriedade, grande ou pequena.
Mas me enganei. Ela estava me treinando para a vida.
Agora, eu ando em terras que não são minhas.
Amo casos que não são meus
E leio livros que não escrevi.
Não possuo as pessoas com quem vivo.
E choro com canções que não compus.
Essa ilusão que é a certeza da posse,
Machuca tanto! Tantos!
Disso eu já não sofro. Tenho a alma leve.
Obrigada mãe.