A Arquivista

A ARQUIVISTA
Miguel Carqueija


No meu mundo emparedado
me sinto como rainha;
meu trabalho é caprichado
pois sou muito esforçadinha.

E lido em computador
e sei fazer um fichário:
só trabalho com amor
neste meu labor diário.

Subo a escada de mão
e atendo toda demanda;
cada colega é irmão,
sem mim a coisa não anda.

Mas atendo com sorriso
a quem recorre a mim;
qualquer coisa errada aviso:
— Aqui está dando cupim!

Se precisar eu xeroco
e ordeno todo papel;
mantenho tudo em foco,
aqui nada fica ao léu.

Posso não ganhar fortuna
mas tenho dignidade;
cabelos cor da graúna,
olhar que lembra a saudade,






sou uma garota bonita
mas gosto de trabalhar;
uma arquivista catita
e aqui também é meu lar.

Faço planilha com gosto,
nada fica extraviado;
enquanto eu estiver no posto
o serviço é caprichado.

Arquivo é morto ou é vivo,
importa bem definir;
pra isso estudei arquivo,
pra nada errado sair.

Pois formei-me em faculdade
chamada Arquivologia;
que tem por finalidade
a guarda de cada via

de todo e qualquer documento
até a hora do expurgo;
cuidar disso é meu alento
entrincheirada em meu burgo!

Preciso daquela pasta,
minha chefe me avisa;
e numa estante tão vasta
eu logo encontro a precisa.



Por isso sou importante
no esquema da empresa:
e assim a todo instante
requisitam minha presteza.

Recibos de pagamentos
fichas de cadastramento;
processos e documentos
chegando a todo momento:

tem que ser desinibida
e é trabalho de mulher:
da entrada até a saída
é tudo aqui com a Ester!


Sei que eu sou uma gracinha,
um cabelo que é um amor,
unha em lilás pintadinha
e meu olhar sedutor.

Minhas mãos são tão sedosas
e o nariz arrebitado,
minhas pernas graciosas
sou bonita até de lado!

Mas não se engane comigo
pois na vida eu naveguei
e não sou fácil, amigo:
gente à beça eu arquivei!



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3 e 4/11/2015