Ao Poeta Maior

Cadê você, Carlinhos?

Tão pequenino e tão murchinho!

Andava ligeiro pelas ruas do Rio,

Que os transeuntes nem o notavam,

Apenas viam uma luz a sua volta.

Lá vem Carlinhos, o Drummond de Andrade,

Aquele homem forte e fraquinho

que sorria como um passarinho.

Surgia nas feiras para comprar bananas

E conversava com os homens atrás das quitandas.

À tardinha quando caía,

Passeava na praia de Copacabana

O vento soprava e o fazia circunspeto

Olhava os meninos a céu aberto.

Caminhava, caminhava...

A mais não poder

E voltava a casa e sentava à mesa,

Para comer uma xepa ao entardecer.

Depois calçava o chinelo

Bem discreto,

E olhava a TV!

Lá vem Carlinhos!

Aquele amigo aquele velhinho.

Tão jovem de ser.

Sujeito calado, mas muito simpático.

Das coisas escrevia, sem nunca ver.

Sabia das rosas, ouvia os pássaros!

Sentia a quimera das tardes de sábado.

Sofria as dores das gentes de cima

Favelas nos morros de lá da Rocinha.

Terceira idade, nem ele sabia.

Pois que seus versos diziam

A juventude que tinha.

Um dia apressado, apressado um dia,

Falou do amor que jamais pensaria

Mostrou sua força que ainda possuía

E passou a verdade

Dos amores que havia.

Um peito inflado por ver a Maria

Sapeca e gostosa aquela menina

Trazendo carícias que a ele faria.

E então, Carlinhos?

Por que foi embora?

Se a todos deixava o amor de outrora

Naqueles recantos da cidade antiga,

Que tanto brincara de João e Maria.

Mas, Carlinhos se foi,

E com ele, a saudade apenas aumentou.

Aumentou tanto no peito daqueles

Que como ele sentiu

Que o sonho acabou.

Acabou não, Carlinhos!

Apenas saiu voando

Por entre as estrelas

Que o Minuano

Chegou para te ver

E não te encontrando,

Deixou o agosto tão cheio de chuvas

Como se a natureza

Sentindo tua falta,

Ficou entalada

De tanto sofrer!

sonia barbosa
Enviado por sonia barbosa em 02/10/2005
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