À Minha Mãe Iracema (Mulheres em Minha Vida)

Terra, nuvens e astros, tudo voltou

ao nada insondável. Tênue o rio

se vai esfumando. O monte se desfez.

Só resta uma sombra, o vazio.

Voa, voa ao infinito, águia viageira,

suas asas sem cessar descrevem ondas,

se contraem, se remontam ligeira.

As nuvens, as árvores. Nada só o horizonte.

Estás em pleno azul, azul que prende.

Oh ! As asas doem. Sem descanso

ferem o ar . . . Ao fim se rende.

E cai, vai caindo, caindo pelo nada.

Cair, e mais cair, meio dormida,

a meio despertar, seguir voando.

Fatigar-se outra vez, tentar a saída.

Calar, dormir em vértigo sonhado.

Ah !, sim, o único amor se subtrai

ao coração, tudo ao redor se esfuma.

E ele desmaia, volta, busca e cai,

segue a miúde, voar entre a bruma.

Rui Garcia