O que ele me sussurrou (para Carlos Drummond de Andrade)

Entre meus amores me sentei

Entre a calçada e o mar

Entre a poesia e o vento

Entre marulhos e risadas aflitas

Entre beijos repentinos e um sorriso

Que faz suspirar meu amigo imóvel. Triste

Por eternamente não poder fitar o mar

E entregar a alma ao oceano

Aqui, numa eterna e inspirada pose

Ele queria apenas ter a magia do movimento pra dizer:

Essa força que lhe esmaga o peito

Mas que no abraço, tão macia lhe enternece

Que na distância alfineta a memória

E que nos beijos repentinos tudo esquece

Não a perca, não a deixe ir

Pois nesse banco aqui sentado

Entre a calçada e o mar imortalizado

Queria apenas que estivesse a mulher que amei

E que trocada fosse minha imóvel solidão

Pelo momento imóvel nos braços dela

Pois eu sou a esponja que bóia no caos

E entre os oceanos de nada gerei tal ritmo

Que os olhos dos amantes que não morrem, ainda giram

Sob a mesma música, ainda flutuam

Sobre o mesmo balanço do mar

Sob a poesia, estática como minha figura

Eterna como minha alma