A Escriturária

A ESCRITURÁRIA
Miguel Carqueija

Mas que vida complicada
é essa de escriturária:
vivo sempre assoberbada,
quem me ajuda é a estagiária!

O escritório é agitado,
a chefia é estressada,
o colega é aloprado
e a colega é uma maçada!

Mas vivo de bom humor,
que trabalho é mesmo assim;
e se faz muito calor
coloco o vento pra mim!

No meu mundo tem tabela,
memorando, ligação;
e esta escriturária bela
é craque em digitação!


Ainda tenho que estudar
pois quero vida melhor;
pretendo me adiantar,
sei o meu dever de cor.

Mamãe, papai inda pensam
que criança ainda sou
porque eu lhes tomo a bênção
e pra farra nunca vou.

Quem é o teu amor? Pergunta tão maldosa!
Pois se és tão bela e jovem, por certo tens amor!
Mas mesmo assim catita, alegre e tão formosa
o meu amor, ó que destita, é só o computador!

Eu resolvo ao telefone
cada problema importante!
Com eficácia de drone
Faço tudo num instante!




É simples o meu trajar,
uma blusa bem modesta
e calça de desbotar,
afinal não vou pra festa!

Nada de me produzir
com batom todo vermelho,
pintura até entupir,
meu rosto é belo no espelho;

pra que é que eu vou trabalhar
toda cheia de artifício,
meu dinheiro sei ganhar
cumprindo bem meu ofício!

Eu ganho pouco e sou pobre,
mas tenho de trabalhar:
o trabalho é coisa nobre
e a vida vai melhorar!

Seu doutor, se for possível
melhora o nosso salário!
Com essa inflação horrível
fazem o pobre de otário!

Mas graças a Deus eu sei
dinheiro economizar:
nem que o meu pai fosse rei
eu iria esbanjar!

Eu sou mesmo uma heroína
pois enfrento condução
querendo ir pra piscina,
já que é grande o calorão!

Salto da sardinha em lata
e corro pro edifício,
tropeço que nem uma pata,
a pressa é um estropício!

Mas trabalhar é assim,
heroína dia a dia;
isto só terá um fim
chegando a aposentadoria!


(1 a 5/3/2017)




LEMBRANÇAS DO ESCRITÓRIO
 
Flor de Lyz
 
Selma e eu trabalhávamos em escritórios de arquitetura e engenharia. Ela como escriturária e eu
      como secretária e faz tudo.
           O meu escritório era bem pequenino. Foi um presente de formatura do pai para o filho recém  
      formado em arquitetura.
           O dela, era uma firma do pai dele, uma mega empreiteira.
           Já estávamos acostumadas a não sermos enxergadas pelos doutores nossos patrões e seu clientes.
      Isto nos incomodava bastante, mas, com o tempo virara rotina.
           Certa vez porém, houve uma reunião importante no escritório onde ela trabalhava e embora ela não
      costumasse participar pois, seu trabalho era mais burocrático, nesta ela foi intimada  a ficar à disposição da diretoria. Sem opção de escolha,lá estava ela, catando mosca no canto da sua salinha acanhada à espera de que alguém se lembrasse de sua existência.
           A tal reunião entrou pelo horário do expediente a dentro, e ela lá... Já cansada e cochilando de repente, ela ouviu uns cochichos  e sons abafados adentrando na sala, abriu os olhos e os ouvidos e percebeu a presença de um engenheiro atarracado na cintura da secretária de seu patrão, que aos beijos e gemidos quase se engoliam. Perplexa, e atônita, sem saber o que fazer, permaneceu ali quietinha no seu cantinho, na esperança de que os dois se mancassem, o que não aconteceu é claro, já que eles estavam por demais ocupados. O colóquio foi esquentando, e ela, já preocupada e envergonhada começou a
      se desesperar, foi quando em meio aos murmúrios a secretária disse: Vamos... vamos aqui mesmo... a sala tá vazia, e a esta hora ninguém vem aqui... A esta altura dos acontecimentos, sua blusa já estava no chão. Ao ver isso, Selma não se conteve e fingiu que espirrava bem alto...
          O casal parou um instante e olhou em sua direção, e ela muito braba foi logo dizendo em voz alta:
          — Ah! assim já é demais! Que eu seja transparente  tudo bem! Agora querer que eu seja cega, surda e
     de ferro já é pedir muito!
 O casal perplexo, continuou olhando enquanto ela saia correndo da sala! Passou feito um azougue pela sala de reuniões sem responder ás perguntas de: "o que houve?"
          No dia seguinte ao chegar na sua acanhada mesinha de trabalho, lá encontrou a secretária fogosa que suplicando com lágrimas nos olhos, foi logo dizendo: — Selma eu sei que você já se acostumou a ser transparente, mas, por favor, será que você só dessa vez podia fingir que é cega e surda? por favor? Ah! e se não for pedir muito, você podia também ficar muda sobre o que houve eternamente? Selma olhou aquela figura patética sem crer no que estava acontecendo, mas, o desespero da outra era tanto e a maneira como ela colocou as coisas era tão cômica, que sem opção melhor, Selma caiu numa gargalhada dizendo:
     — Levanta daí, sua idiota!
     — Mas Selma o que você vai fazer? insistiu a outra! E ela irônica: Como? Fazer o que? Se eu sou transparente não existo! Se não existo não escuto! Custa nada ser muda também né?
     E continuou rindo descompensadamente...
          Quando conseguiu se acalmar, ligou pra mim e entre risos me contou a sua aventura. É claro que também ri muito com a presença de espírito e senso de humor dela... Rsrsrsrsrsrsr
 
                                    By Flor de Lyz 
                                    3 de fevereiro de 2018
 




 
  INJUSTO ESQUECIMENTO
 
          
              Nestes tempos modernos
              Em que o mundo digital
              É o senhor que dita as leis,
              Já quase ninguém se lembra
              Da figura outrora imprescindível
              Da nossa dedicada escriturária...
                      Sempre na sala mais acanhada do escritório,
                      Era ela quem transformava 
                      As planilhas, tabelas, folhas de pagamento
                      E até mesmo a receita da firma
                      Em realidade palpável
              Pouco valorizada pelos patrões
             Era ela quem dava vida
             Com sua caneta e escrita impecável
             Aos relatórios da diretoria...
             E no tac tac de sua máquina de escrever
             Tudo ela transformava
             Em documento oficial.
                      Desde uma simples carta
                      Ao contrato empregatício
                      Tinha que passar pelas mágicas mãos!
                      Da humilde e competente escriturária.
                      Que ali na sala acanhada,
                      Muitas vezes sequer tinha ideia
                      De quanta vida e importância
                      No seu dia a dia
                      Ela moldava e manipulava...
             E hoje...
             Talvez sua tão nobre profissão,
             Quem sabe nem exista mais?
             E muitos poucos ou ninguém 
             Se lembre que um dia
             A competente escriturária
             Não só foi necessária
             Como dignamente existiu...
 
                                 By Flor de Lyz
                                 2 de fevereiro de 2018
                                           
                     



 
           Flor de Lyz, nascida em Governador Valadares,
       Minas Gerais...viveu uma infância pobre, mas, muito rica em
      liberdade... cresceu correndo pelos campos, acompanhando e 
      ajudando a avó a plantar na roça.
          Aos cinco anos veio para um orfanato no Rio de Janeiro, e lá
     se encantou com as palavras, tão logo aprendeu a ler, começou a 
     brincar com elas e vivia rabiscando,versinhos em papéis minúsculos.
         Mãe solteira... criou a filha e duas netas sozinha  e só à bem
     pouco tempo, criou coragem de libertar SEUS VERSOS das gavetas
     onde viviam aprisionados para publica-los aqui no RECANTO...
         Sonhadora, romântica, Ganha a vida como *** Cuidadora social 
     e artesã ***  Como toda aquariana vive mil anos à sua frente ...
     Mas, sempre com os pés no chão, e a poesia na alma... Apesar de
     continuar considerando seus contos,cronicas e versos como simples...
     ESCRITOS DE GAVETAS...



 
imagens: 1, pinterest; 2, 3, 5 e 6, pixabay; 4: Flor de Lyz, gentilmente cedida pela autora.
 
Miguel Carqueija e Flor de Lyz
Enviado por Miguel Carqueija em 03/02/2018
Reeditado em 03/02/2018
Código do texto: T6243805
Classificação de conteúdo: seguro
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