Irresponsabilidade invejável

Como quando nas pradarias,

ainda havia potros selvagens,

assim era ele,

mas se passou muito tempo.

Lembro-me de quando nos contou

que a sua mãe havia atentado contra seu pai,

sem mais detalhes, assim do seu jeito,

como se nada de anormal tivesse acontecido.

Chegou uma semana depois do batizado,

quando o padrinho teve que ser representado,

por um outro amigo e sem mais ressentimentos

e foi aí que aprendi a respeitar o seu jeito.

Um grande sujeito e isso não dá para negar.

Numa visita a um apartamento na praia de Botafogo,

a um amigo seu, um tanto quanto suspeito,

como aqueles que nascem com o sexo errado,

quando eu, ainda meio bicho do mato,

estranhei muito, mas não me queixei.

Coisas do Ricardo.

Entramos juntos para a Marinha,

mas ele não continuou.

Era muita gente mandando

e naquela fase da carreira,

só nos cabia obedecer.

Um dia eu também mandaria. Quem sabe?

Isso não tinha muito a cara dele.

Aliás, para aquele jovem de Miracema

-não sei se a mesma na qual se inspirou o Evandro,

com uma forte conexão com Santa Cruz da Serra,

cidades fluminenses sem muita expressão,

parecia não existir dor e nem saudade,

só uma imensa vontade de viver,

descompromissado e nem agarrado com ninguém.

Simplesmente viver, voar

e vez em quando, plainar no ar.

Aprendi muito com ele,

até porque eu também gostaria de ser assim.

De não preocupar tanto com os outros,

o que nos faz viver menos um pouco,

não que ele não se preocupe,

mas existe uma certa liberdade,

invejável,

naqueles que tentam não se apegar.

O leão também aos poucos deixa a cria.

Se eu fosse um filósofo afirmaria,

que as fugas evitam as rugas.

Alguém um dia me disse,

que esse velho amigo, antigo companheiro,

havia se tornado caminhoneiro,

mas que nas estradas não ficou por muito tempo.

Havia nele um certo descontentamento,

em repetir todos os dias o mesmo movimento

e eu apenas lamento,

pois com ele poderia ter aprendido mais.

Mas assim é a vida

e quem sabe lá no seu íntimo,

ele também não quisesse ser diferente?

Há gente de todos os tipos,

sem defeitos e nem qualidades,

apenas com as suas características,

típicas da criação que cada um teve,

sem aquela velha e chata caretice,

de sempre se perguntar,

sobre quem vai nos cuidar na velhice,

na qual eu me enquadro, amigo Ricardo.

Cada um é como é,

a exemplo de Pelé e Garrincha,

cada um a seu modo

e quem foi que os moldou assim?

Mais vale um pássaro nas mãos, irmão,

que dois voando?

Isso é muito relativo.

Depende muito do tamanho do bando,

do nosso grau de egoísmo,

se há algum lirismo ou não

e da dimensão dos nossos espíritos.

Vejo um guerreiro pele-vermelha,

montado em seu cavalo,

admirando a pradaria

e tentando descobrir,

para que direção ir.

rodriguescapixaba
Enviado por rodriguescapixaba em 25/04/2018
Código do texto: T6318895
Classificação de conteúdo: seguro