Evocação

Sempre fui fascinado pelo aroma das palavras

e a impressão miásmica que deixam na memória.

Sejam as essências verbais que movimentam o lembrar,

embalsamando o Ser de conjugações.

Seja a morrinha imagética e limitante dos adjetivos

que tange o infinitivo e,

em sua pequenez,

traduz a esfera em ponto.

O eflúvio dos pronomes, por sua vez, tende a ser menos universal,

mudando suas notas de pessoa a pessoa.

Sua pungência, dependente do tempo e do espaço,

se distancia e envelhece na vida.

E assim, o rastro de ranço e perfume,

que de tu, eu ou nós exalava

Não passa hoje de vestígio sutil

em meio a amálgama de odores que me acompanha.

O "acento" suave de tabaco na boca,

que agudiza seu amargor e cincunflexiona meu ego.

O amadeirado que "virgula" a garganta e evoca suspiros.

A doce nostalgia que impregna o ponto final de saudade,

e evoca você.

Você cheirava a chocolate em banho maria com um toque de almoço em familia.

Como a fragrância de lojas de doces em domingos de páscoa, sabe?

E mesmo percebendo agora que prefiro o odor salgado do suor,

ainda me lembro de ti ao comer um bombom.

Lucas
Enviado por Rob J Cole em 18/01/2019
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