À DINAH

"Nestor Tangerini, consagrado escritor e filólogo

brasileiro, encontrando-se recolhido a um leito

do Hospital de Pronto Socorro, em virtude do desastre

de ônibus ocorrido a 20 de janeiro último, do que lhe

adveio a perda do braço esquerdo, impossibilitado de

ver seu filhinho Nirtinho, nascido no dia 11 de

fevereiro p.p., escreveu, no próprio leito de dor,

este lindo soneto, que dirigiu à sua esposa.

Nasceu Nirtinho, o príncipe encantado,

o filhinho de nossa adoração,

o herdeiro de um paupérrimo reinado

que tu enriqueceste de ilusão.

Ante meu braço esquerdo decepado,

com que te apertei muito ao coração,

todo o teu sonho viste derrocado...

Mas Nirtinho lhe deu ressurreição!

Dizem que, de tão lindo, não tem par,

e, louco por falar, faz grande alarme.

E eu como anseio de o sentir falar!...

Não para ouvir papai, que é tão comum;

mas, vivinho e curioso, perguntar-me

por que ele tem dois braços e eu só um".

NTT.

Publicado no jornal O BOTAFOGO, Rio, 2/3/1940, p. 3.

DINAH MARZULLO TANGERINI

*1/6/1917, Rio de Janeiro, DF,

+22/10/2005, Rio de Janeiro, RJ.

Bergamota
Enviado por Bergamota em 08/11/2005
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