DONA DE CASA

Entre um verso e outro,

vou estendendo

as roupas no varal.

Ponho também

os meus sentimentos

a corar ao sol.

Com rimas,

tempero para dois

o feijão,

o bife e o arroz.

A sobremesa

em poetrix

vem depois.

Em precisão metrificada,

espano, esfrego, limpo e varro,

mesa, banheiro e escada,

trova de flores vai pro jarro.

No jantar, sirvo um rondel

de ovos estrelados

brincando no prato um gostinho de céu.

Anoiteço em expectativas

de duetos e cirandas

em lençóis perfumados de promessas

e juras de amor eterno.

Adormeço num poema moderno,

abraçando sonhos solitários,

feito em versos – nada perfeitos –

de um marido quase alexandrino.

Solitária, acordo para um novo dia,

para sempre exilada e condenada à própria sorte

nos territórios dessa casa da poesia.

(José de Castro, poema dedicado a todas as mulheres que se esmeram na arte de cuidar da casa da poesia)

José de Castro
Enviado por José de Castro em 12/10/2007
Reeditado em 05/02/2013
Código do texto: T690848
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