Boca Pra Tudo

Numa Boca da noite

No alpendre da fazenda

Meu pai Bota a boca no mundo.

Num canto do alpendre

À boca miúda eu e meus irmãos

Trêmulos ficarmos a escutar.

Minha irmã caçula com medo

Bota a boca no trombone dos nossos

Maus feitos do dia.

Meu pai de boca aberta

Não acredita no que ouve.

Minha mãe em pé no portal

Ao ouvir tudo tapa a boca

E por pensamento roga por nós

A Deus para alívio do castigo.

Inicia-se entre papai e mamãe

Um bate boca sem fim.

Acusação de um lado, punição!

Defesa do outro, perdão!

De repente o silêncio

À boca pequena a cozinheira

Delata o mau feito

De Joãozinho a mamãe.

Flagrado com a boca na botija

Petiscando a comida antes do tempo.

Evadindo-se à vista de poucos

Deliciando o petisco na ponta dos dedos.

Aos que o viram

Ficaram com água na boca.

Ter boa boca não é arte pra todo mundo.

Mas para Joãozinho isto não era problema.

Nilton Pinto
Enviado por Nilton Pinto em 12/10/2007
Reeditado em 12/10/2007
Código do texto: T692016