Boca Pra Tudo
Numa Boca da noite
No alpendre da fazenda
Meu pai Bota a boca no mundo.
Num canto do alpendre
À boca miúda eu e meus irmãos
Trêmulos ficarmos a escutar.
Minha irmã caçula com medo
Bota a boca no trombone dos nossos
Maus feitos do dia.
Meu pai de boca aberta
Não acredita no que ouve.
Minha mãe em pé no portal
Ao ouvir tudo tapa a boca
E por pensamento roga por nós
A Deus para alívio do castigo.
Inicia-se entre papai e mamãe
Um bate boca sem fim.
Acusação de um lado, punição!
Defesa do outro, perdão!
De repente o silêncio
À boca pequena a cozinheira
Delata o mau feito
De Joãozinho a mamãe.
Flagrado com a boca na botija
Petiscando a comida antes do tempo.
Evadindo-se à vista de poucos
Deliciando o petisco na ponta dos dedos.
Aos que o viram
Ficaram com água na boca.
Ter boa boca não é arte pra todo mundo.
Mas para Joãozinho isto não era problema.