AO BOM FILHO DE HEBRON

Sim,sim,você deve,deve

Galgar o prédio e a vida

Para tal amarga despedida,

Mesmo caia dali feito neve.

Sim, entenda, a vida é breve.

A que deu-lhe luz está de partida.

Pudera dar a ela ao menos margarida

E toda ternura que não se descreve.

Por quatro noites fulgura

Espécie de homem-aranha:

A mãe idosa parte e isto dói.

Mães amadas em todas as culturas

O corpo dói como o de quem apanha:

Cena com tristeza de conto de Tolstói.

Ao rapaz Jihad Al-Suwaiti da cidade de Hebron, na Cisjordânia. A mãe esteve internada e isolada no hospital e ele por 4 noites escalou o prédio e permaneceu no parapeito da janela observando-a. No quinto dia ela não resistiu, tratava-se de uma leucemia, mas contraiu covid-19 e morreu.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 22/07/2020
Reeditado em 23/07/2020
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