*Republicação da poesia publicada em 21/07/2006, acrescida do obituário e biografia anexados posteriormente. 


            


 
VERSOS CLEMENTES



Paz rima com o bem
e rima com a justiça também.
Paz rima com o perdão
que torna clemente o coração. 

Monotonia não rima com poesia,
riqueza rima com humildade,
felicidade não rima com vaidade
mas saúde rima com alegria.

Jesus rima com Francisco,
Francisco rima com Antônio,
Antônio rima com Galvão,
e Galvão rima com Clemente.

Mestre e discípulos rimando profecias com poesias. 

Mas Clemente não rima com indiferente,
porque Clemente rima diferente.

Pois imediatamente, num só e breve momento,
e com um espírito alegre e envolvente,
nos faz sentir a presença de um amoroso instrumento
da divina paz do Senhor no meio da gente.

Purificando a rima da mente em depressão,
explicando a rima da vida com encantamento,
transformando a rima do problema em solução,
e convertendo a rima do desânimo em empolgação.

Nos ensinando com sabedoria e simplicidade
que podemos ser felizes, hoje;
que podemos fazer maravilhas,
que podemos ser crianças,
que podemos viver em plenitude,
que podemos amar plenamente,
que podemos viver com mais prazer,
e que podemos viver o Pai-Nosso
com fé, esperança e amor. 

Clemente encanta a vida de todos e segue com carinho
distribuindo sorrisos, amor, alegria, consolação e luz.
Iluminando todas as criaturas que surgem no seu caminho
como um raio fulgurante da nossa Grande Luz: o Cristo Jesus!

Obrigado franciscano clemente,
pela partilha da semente;
Deus lhe pague, Frei Clemente,
por semear Paz e Bem à tanta gente.




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Anexos posteriores à publicação original da poesia, em 21/07/2006:






Frei Clemente e o mistério da alegria


Publicado em 15/6/2011 por: Luiz Paulo Horta 

 
"Frei Clemente Kesselmeier foi embora, aos 76 anos. Mas nos deixou o dom da alegria. Isso é uma coisa misteriosa, e ao mesmo tempo maravilhosa.

As grandes ordens, na Igreja, têm cada uma o seu perfil, sua maneira de ser. Os dominicanos sempre foram grandes estudiosos (são Tomás de Aquino era dominicano). Os jesuítas se destacaram como organizadores, grandes educadores, homens de ação. Os beneditinos puxaram para o lado da contemplação. E os francis
canos — a que pertenciam santo Antonio e o nosso frei Clemente — receberam de são Francisco dois grandes dons: o dom da pobreza e o dom da alegria. 

Parece engraçado falar assim; mas esses dons se comunicam. Isso eu senti quando fui a Assis pela primeira vez, e vi a igrejinha da Porciúncula, minúscula, que foi a primeira igreja franciscana. Eu tive a sensação de que do despojamento — isto é, da pobreza — é que vinha a alegria. E é o que a gente vê na vida de são Francisco e dos seus primeiros irmãos — fratres, daí frades. Eles não tinham nada; e então tudo, absolutamente tudo, aparecia como um dom. Por exemplo, a beleza do mundo, o fascínio do mundo visível, das flores, dos pássaros.


São Francisco era poeta — como o frei Clemente era poeta. E aí entra um outro paradoxo. Como nós somos cristãos, nosso ideal de vida é a vida do Cristo, e a vida do Cristo passa pela cruz. Quando os primeiros discípulos entenderam isso, ficaram assustados, preocupados. São Pedro tenta dissuadir o Cristo de falar essas coisas; e recebe uma resposta brutal: afasta-te de mim, Satanás! E o Cristo disse: quem quiser seguir os meus passos, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.

Coisas muito difíceis, que fazem parte da vida cristã. Então, como é que se pode falar de alegria? No frei Clemente, era uma coisa quase natural. Ele tinha aquela vibração, aquele entusiasmo, que tocava as pessoas. A etimologia de entusiasmo diz: cheio de Deus. E se você tem essa presença de Deus, está em contato com a fonte da alegria. São Paulo fala, nesse sentido, da “paz que ultrapassa todo entendimento”.

Os santos também sofreram, São Francisco sofreu, até fisicamente (ele tinha os estigmas da Paixão). Como sofreu o padre Pio, outro estigmatizado. Mas através do sofrimento, que é um mistério, através da cruz, o cristão enxerga a vida verdadeira, que traz felicidade — a felicidade que o mundo não pode dar. 

Frei Clemente sofreu no fim da vida. Teve sua casa assaltada, foi torturado pelos ladrões. Num certo momento, ele parecia muito abatido. Depois, foi voltando ao que era. Alguns de nós (ou muitos) tiveram esse privilégio: de acompanhar a evolução do frei Clemente. Quando ele era jovem, apareceu com o seu irmão gêmeo — padre Henrique — na redação do Jornal do Brasil. Eles sempre foram grandes comunicadores, acreditavam na importância da comunicação.

Mas eles eram tão alegres, tão exuberantes, que às vezes pareciam meio malu
quinhos. Eu cheguei a ficar desconfiado. Depois, fui entendendo o que estava por trás daquela vivacidade, daquela energia. Eles acreditavam no que estavam fazendo; não por acaso tinham trocado a Alemanha pelo Brasil.

E o frei Clemente, na sua vida sacerdotal, foi evoluindo sempre. Em fevereiro, ele rezou a missa de aniversário de meus pais — que faziam, no mesmo dia, 50 anos de casamento e dez anos de morte. Foi a missa mais bonita que eu já vi. Ele já estava modificado pela doença, passava às vezes uma impressão de quem está debilitado. Mas ele nunca falou tão bem, com tanta inspiração; e o que passava daquilo tudo era uma enorme alegria, uma alegria que vem da contemplação do milagre que é este mundo, com todas as suas falhas, com todos os seus sofrimentos; e da percepção de que nós somos filhos de Deus, amados por Deus.

Ele tinha uma frase linda: a qualidade da sua vida depende da qualidade do seu olhar. A gente muitas vezes olha pa
ra o mundo com um olhar de desejo. Nós queremos ter coisas, ter muitos prazeres, ter tudo o que é bom. O mundo tem muitas coisas boas, eu diria até incrivelmente boas; e a gente pode desfrutar delas. 

Mas sem perder de vista que não nascemos só para tirar prazer das coisas; que a vida tem outras dimensões, outras profundidades. É para essas dimensões que o frei Clemente — como todo bom padre — chamava a nossa atenção. Mas isso vinha envolvido naquela maneira de ser que era entusiasmo, alegria, doação aos outros, senso poético.

Eu diria que, nos seus 76 anos de vida, ele viveu uma aventura maravilhosa, na terra que escolheu como seu destino. Numa época onde há muito egoísmo, ele chamava as pessoas para fora dos seus mundinhos fechados; ele era um antídoto contra a depressão.

conseguia isso não por meios artificiais, por remédios, mas apontando a coisa extraordinária que é a experiência cristã, quando ela é vivida na sua verdadeira dimensão. Uma experiência de vida, e não de morte. De alegria, e não de tristeza."




              






 
https://youtu.be/jdjppvmVAPo

Cirque eu Soleil - Alegria







"Onde houver tristeza que eu leve alegria..."

(São Francisco de Assis)





Frei Clemente também foi pintor, escritor e poeta. E o maior transmissor de positivismo e de alegria que eu já conheci. À ele a minha eterna admiração, gratidão e esta simples homenagem, pela breve mas muito significativa, feliz e inesquecível amizade.

Paz e Bem Frei Clemente!

 
Wilson Madrid
Enviado por Wilson Madrid em 27/07/2020
Reeditado em 27/07/2020
Código do texto: T7018620
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