Fomos meninos em São Vicente
“Coração americano
acordei de um sonho estranho...
estava em San Vicente
a cidade e suas luzes
estava em San Vicente...”
*Milton Nascimento e Fernando Brant
Fomos meninos em São Vicente
Apelidos eram comuns
no nosso tempo e na nossa cidade,
sem o constrangimento, a estrangeirice
e a esquisitice desse tal de ‘bullying’
e até o pequeno pássaro,
silvestre e campestre, de nome garrincha,
serviu de inspiração para um craque do futebol,
que tinha o nome de Mané,
que também devia ser apelido.
Era muito divertido!
Todo escurinho era Pelé ou Pelezinho,
se fosse canhoto, era Canhotinha
e se maricas, era Mariquinhas.
Tostão era o dinheiro
e também apelido de craque de seleção.
Que tempo bom...
que não volta mais,
meu irmão.
Fica a falsa impressão
de que ficou faltando um
de significativa expressão
mas não tá faltando, não.
Simplesmente foi guardado para o final
por se tratar do homenageado,
um menino espevitado,
como todos nós fomos.
Um amigo de gostos e gestos simplificados,
batizado como o mesmo nome
do grande ídolo de seu saudoso pai,
que foi também o fotógrafo da nossa infância,
sem essa tal de intolerância,
que naquele tempo nem existia.
Arlindo ou Arlindinho 21 –que também era apelido,
Era o nome do pai desse meu amigo
e Edivaldo era o grande jogador da época,
que contava com a sua admiração e a sua paixão,
transformou-se em fonte de inspiração.
O meu amigo desde a infância,
foi batizado com o mesmo nome do craque,
para que também fosse chamado de DIDA.
Assim é –ou era a vida,
moldada no formato mais simples,
como o garrinchinha, o coleirinho, o sabiá
e o tizil,
que também era apelido de alguns escurinhos,
daqueles que fossem bem pretinhos
e ninguém se ofendia por isso.
Meu amigo também é fotógrafo nas horas vagas
e as horas vagas da vida -ou na vida,
são suas melhores horas.
A própria vida é ligeira demais,
por isso é necessário relaxar um pouco,
fazendo o que a vida,
nas suas horas de correria,
não nos permite fazer.
Sei qual o clube para o qual o Arlindo pai torcia,
com fervor e paixão,
mas não importa a torcida,
pois parei pra falar da vida,
do amor,
das emoções
e das pessoas envolvidas...
nessas mesmas nossas vidas...
“...amigo é coisa pra se guardar...”
*Milton Nascimento e Fernando Brant
Há muitos Clubes como aquele, pelas diversas Esquinas do Brasil,
Inclusive na nossa antiga Escadaria.
*Dedicado ao grande amigo e irmão, Dida Carvalho.