A menina dos meus olhos
A menina dos meus olhos
tem nos seus, os olhos meus
tem na cor, do cinza ao púrpura
explendor, pavor, beleza
ódio, amor e dor
tristeza
tristeza
e tristeza.
Tem a certeza da vida
tem esperanças perdidas
tem um quê de moça triste
de anciã já cansada
de mulher mal amada
de donzela apaixonada.
Tem nos seios maltratados
uma fonte de pecados
uma jazida de sonhos
sonhos de filhos amados.
A menina dos meus olhos
me deu abrigo e sustento
acalantou meus desejos
me fez mulher sem destino
me fez Maria sem tino
e me encantou com seus beijos
abraços desajeitados
e carinhos mal acabados.
A menina dos meus olhos
se perde em curvas e trilhos
suas ruas empipocadas
suas crias apressadas
travessas e ladeiras
morros e ribanceiras
paulicéias desvairadas.
A menina dos meus olhos
se perde em suas alcunhas
já foi terra da garoa
para muitos prometida
hoje é Sampa, numa boa
ou simplesmente São Paulo
São Paulo de arranha-céus
São Paulo de muitos céus
São Paulo, de Zés,de Raimundos
São Paulo, sempre São Paulo
tantas vidas, tantos mundos
São Paulo sem fronteiras
de rios e corredeiras
para mim apenas menina
menina desajeitada
menina que se perdeu
menina amada, odiada
menina dos olhos meus.