Portas (para Tusta)

Muitas vezes ouço dizer

És burra que nem uma porta

Na verdade pode até ser

Tenho a visão mais que torta!

Há quem goste de ser porta

Fechada a quem quer entrar

Eu sou de vidro que corta

Mas transparente ao olhar.

Muitas portas estão abertas

Mas nem se deixam espreitar

Outras há sempre fechadas

Mas que se abrem ao tocar

Algumas são giratórias

Puxadas por mãos contentes

Por grandes com tolas glórias

Por pequenos inocentes

Outras deslizam em calhas

Que entalam os distraídos

Encontrando suas falhas

Nesses momentos contidos

Umas abrem-se à riqueza

Só guardam bens de valor

Espreitando vê-se a avareza

E o frio a espantar o amor

Se a porta guarda a pobreza

Acolhendo-a no seu seio

Também embala a tristeza

De quem se aninha no meio

Recebo quem vem por bem

Escancaro a quem me encara

Mas se não gostar de alguém

Bato com a porta na cara

Porque isto de ser porta

Inda tem que se lhe diga

Ser burra isso que importa

Se dos escolhos ela abriga.

Amigo com muitas chaves

Para todos veres entrar

Com modos ternos suaves

Abres-te de par em par.