Sarau dos ventos com Fernando Pessoa

Para Jane Ander

Hoje fui apresentado a Fernando Pessoa! Ele veio como se nunca tivesse estado, veio com um ar de ausente debochado, saiu de um quarto, pálido como se morasse ali...usando o mesmo chapéu de abas preta e timidamente não disse nada. Com as vestes fragmentadas, recortado remendado quase sem identificação, justamente por isso, se tornou completo e inteiro, entendeu a necessidade de repartir-se para caber em si. Se dividiu adquirindo três carteiras de identidades e um enigma insolúvel para quem assistiu.

Quando a anfitriã ofereceu-lhe um assento, não sabia quem era, era a pessoa, ou o pessoa? mas, que pessoa abrigaria homens na sua própria casa? ( será que, por isso começou a beber!) Acostumado a trilhar por caminhos distintos e complexos, ele saiu sem se despedir, deixou cair um poema amassado do bolso e apenas um verso se referia a cor do vestido da protistuta que não conheceu, e num passo elegante dobrou o paletó, experimentou o licor de canela feito por Célia, virou-se a rua ao lado esquerdo

e seguiu como se nunca tivesse estado alí e sumiu!

Lázaro zachariadhes
Enviado por Lázaro zachariadhes em 23/01/2022
Reeditado em 24/07/2022
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