Velhos Sinos de Santo Antão

Há lamentos à deriva pelos montes

como nuvens que passam pelo Céu

solidão como água pelas fontes

e alegrias que o destino não me deu!

Não há regaço onde me chegue nem acoite

nem capa que me possa agasalhar

visto roupa carregada pela noite

e dores carregadas de luar!

Ó velhos sinos de Santo Antão,

por quem dobram, quem morreu?!

Foi a dor da solidão

que no meu peito apodreceu!

Morreu, morreu, morreu! Não partiu!

'Inda vive, triste, nos meus olhos ...

Todos choram, ninguém viu,

que de mim pende como folhos!

Nos olhos do meu rosto

sede rápidos a beber

e levai a ombros o meu corpo

quando eu da vida me perder!

Ó velhos sinos de Santo Antão,

por quem dobram, quem morreu?!

Quem vai no pinho desse caixão,

quem vai nele para o Céu?!

Alguém que um dia já viveu,

alguém que um dia foi alguém

que estava vivo e que morreu

e que agora é ninguém!

Pela Praça vai passando,

no ataúde, um coração,

por quem dobram sem descanso

os Velhos Sinos de Santo Antão!