Aniversário . A Murillo Guerra, meu pai
Há rastros de espera
Em todas as camas da casa
Em todos os bancos da praça.
O que espero é pura fantasia
Que ainda que desbotada
É o gesto largo do morto renascendo.
Há rastros de espera
Em todas as refeições do dia.
Aguardamos mudos e sem fome
Tua ausência terrível
Na cabeceira da mesa de jantar.
Sentamos para comer
Com fome das tuas risadas.
Há em todos a tua ausência: uma marca.
Ninguém ouça mencionar-te
Como que temendo
A lágrima disposta no canto do olho,
Afinal sabemos como é frágil esse momento.
Nenhuma fotografia na parede
Mas tua dimensão, velho,
Não cabe no concretoe tijolos da casa.
Teu aniversário sem jantar e sem cervejas
Indica apenas o sentido da tua partida.
E já não dormes lendo jornal
E já não acordas cedo para fazer café.
E já não fritas o queijo Minas
( Só para quem tinha dente de coelho ).
Hoje, a festa é muda e sem graça
E te trazemos por dentro
Como um prolongamento de tua sepultura.