Aniversário . A Murillo Guerra, meu pai

Há rastros de espera

Em todas as camas da casa

Em todos os bancos da praça.

O que espero é pura fantasia

Que ainda que desbotada

É o gesto largo do morto renascendo.

Há rastros de espera

Em todas as refeições do dia.

Aguardamos mudos e sem fome

Tua ausência terrível

Na cabeceira da mesa de jantar.

Sentamos para comer

Com fome das tuas risadas.

Há em todos a tua ausência: uma marca.

Ninguém ouça mencionar-te

Como que temendo

A lágrima disposta no canto do olho,

Afinal sabemos como é frágil esse momento.

Nenhuma fotografia na parede

Mas tua dimensão, velho,

Não cabe no concretoe tijolos da casa.

Teu aniversário sem jantar e sem cervejas

Indica apenas o sentido da tua partida.

E já não dormes lendo jornal

E já não acordas cedo para fazer café.

E já não fritas o queijo Minas

( Só para quem tinha dente de coelho ).

Hoje, a festa é muda e sem graça

E te trazemos por dentro

Como um prolongamento de tua sepultura.

Aldo Guerra
Enviado por Aldo Guerra em 10/12/2005
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