HÁ QUATORZE ANOS

"Em memória de Carlos Braito de Oliveira"

Há quase sete anos não nos víamos.

Um descuido imperdoável,

muito mais de minha parte que da sua.

Há quase quatorze anos você surgiu,

para aconselhar uma criança

que partia para a adolescência,

a ser, um dia, um homem de bem.

(... e naquele dia você tornou-se meu padrinho).

Há sessenta e quatro anos você chegou,

inocente como toda criança,

para viver e cumprir sua missão

neste planeta inescrutável.

E hoje, há duas dezenas de horas,

você partiu deste plano tridimensional

deixando para trás

tanto sofrimento

e escassas alegrias.

Mas eu bem sei,

meu Tio Carlos, meu Padrinho,

que você leva consigo

grandes descobertas

e demasiados conhecimentos.

Sei que muitas vezes foste incompreendido,

e que muitas vezes também,

não compreendeste este mundo.

Sei que muitas vezes você sofreu,

e que dessas muitas vezes,

muitas vezes não tiveste ninguém para consolá-lo.

Sei que muitas vezes você tentava explicar

coisas deste mundo que não tem explicação.

Eu sei, meu Padrinho, eu sei...

Mas queria que você soubesse que aquela criança,

que há quatorze anos sonhava,

hoje é um homem de vinte e cinco anos

que já tropeçou bastante nesta vida

mas não tombou definitivamente.

E esta criança de outrora nunca esqueceu

das palavras que ouvira

no dia de sua crisma na fé cristã...

daquelas palavras amigas, sinceras, corretas,

que buscavam despertar em mim bons sentimentos,

e que hoje, somente hoje,

afirmo que essas palavras foram

em demasia

salutares.

Sei que estou atrasado em mais de vinte horas...

você já reside no Plano Espiritual!

Mas também tenho certeza que você perdoará

este seu afilhado, um tanto atrasado,

que nunca agradeceu

pelas palavras que caminham

tão vivas e ressonantes.

Eu cresci...

hoje fiz-me poeta.

... não por profissão,

mas por necessidade básica de minh´alma.

E agora somente posso ofertar-lhe

estes versos sofridos,

mas tão sinceros como foram

aquelas palavras proferidas

há quatorze primaveras.

Deixo-lhe fisicamente,

estes versos.

... e espiritualmente,

meus sentimentos mais sublimes

de gratidão,

pelos valores que em apenas um dia,

soubeste me passar.

LUIZ ANTONIO CARDOSO

Taubaté-SP, 2001