Ah, se ao menos...

Com gotículas de chuva

insistentes no telhado

acordei, e o travesseiro

tão vazio e frio ao lado...

Ah, se ao menos fosse hoje

belo dia ensolarado!

Água escorre como sempre

em um rosto amarrotado;

não conforta esse café

fraco, amargo e requentado.

Ah, se ao menos fosse hoje

belo dia ensolarado!

De automóveis e buzinas

o caminho abarrotado

traz meninos de olhos tristes

ao semáforo fechado.

Ah, se ao menos fosse hoje

belo dia ensolarado!

Esse ar úmido, inclemente,

me deixa o corpo encharcado,

e de uma alma estilhaçada

chega-me um sonho adiado.

Ah, se ao menos fosse hoje

belo dia ensolarado!

Fim da lida, finda a tarde

num crepúsculo nublado;

outra noite se anuncia

ao meu corpo fatigado.

Ah, se ao menos nessa hora

te pudesse ter ao lado...

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Admiro aqueles que são capazes de escrever poesias formais, com métrica e rima perfeitas; nunca tive esta pretensão e não é um estilo que se adapta ao meu modo de escrever. Mas desde que aprendi o que eram redondilhas com o meu mestre Obed de Faria Jr., fiquei querendo escrever algo no formato. Assim, dedico-lhe este singelíssimo texto, agradecendo de coração por ter corrigido a métrica - mas principalmente por ter-me ensinado, entre gargalhadas por telefone, a poderosa técnica da batatinha...

Abaixo, o endereço para sua crônica "Que raio são 'redondilhas'?", que é uma verdadeira aula sobre elas:

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1297960

(Ops... desculpem por não poder copiar e colar! )