Meu Amigo Professor
Embora seja o astro da cena,
muitas vezes me causa pena,
o meu amigo professor.
Mesmo vindo do outro lado da cidade,
chega sempre logo cedo,
com dedicação e boa vontade.
Mas se envolve em cruel enredo,
pobre amigo professor!
É cochicho, é papelzinho,
é paquera com o vizinho...
Tem o soneca, o destraído
e o “dono do mundo” convencido!
Tem o esquecidinho, o preguiçoso
e o especialista em comentário maldoso.
Tem aquele irriquieto
que não consegue parar um segundo,
e cutuca todo mundo!
(Incomoda mais que um inseto!)
Lá no fundo o papo é bola!
E tem um torcedor exaltado,
e o professor, exasperado,
respira fundo e... se controla.
Por mais que lhes chame a atenção,
torne a aula interessante,
há sempre uma palavra ou um risinho,
qualquer coisa é o bastante
para recomeçar a falação.
Aquele canto, que surpresa!
Já virou salão de beleza,
trocam batons e espelhos,
dicas e conselhos,
detalhes sobre os meninos
e a moda nos figurinos!
No outro canto a farra é tanta,
que já tem quem se levanta.
E quando é advertido,
se considera ofendido!
Certa vez, triste com a vida,
comentou o tempo perdido
preparando aulas, fazendo reciclagens,
para nunca ser reconhecido
e ter tão poucas vantagens.
Como diria o “professor Raimundo”,
ganha salário de segundo,
para cada hora investida.
Chegam as férias, finalmente!
Vai recarregar as energias,
ser tratado como gente,
por quem o ama de verdade.
Será que alívio ele sente,
ao sair de nossas vistas?
Podem duvidar, mas é verdade!
Podem chamá-lo de louco, masoquista.
Mas já nos primeiros dias ele sofre de saudade.
Com toda essa nossa maldade,
o torturamos com a maior naturalidade.
Desprezamos seus esforços, seus pedidos...
Somos assim verdadeiros bandidos,
consumindo sua mocidade.
Como podemos então,
qual seria a razão,
para despertarmos sem merecimento,
sem esforço e sem reconhecimento,
tanto carinho e tanto amor
no peito do nosso amigo professor?