Auto-análise e Auto-sugestão Ao Endopalhaço
I
Pândego não és mais:
Cansaste de tuas próprias momices.
Em nova depressão cais:
Cansaste de viver eternas mesmices.
Em facécias não vês encanto.
Tornaste-te um doidivanas:
Agora crês em falacioso santo,
Esqueceste-te das pilhérias mundanas!
A lágrima agora é parte de teu semblante.
Não és mais ardil, velhaco:
És palhaço sorumbático, taciturno.
Sofres o bombear lancinante
De um coração sem vigor. És fraco,
Andarilho atroz, soturno.
II
Veste teu traje arlequinal!
Ergue teu malabar aos céus.
Livra-te do inferno astral!
Vive ao léu.
Pois não há piores visões, senão aquelas
Dum nobre circo sem cores
E dum mambembe palhaço sem donzelas,
Ambos sem vida, sem amores.
Não vivas a te mortificar:
Brinca, faze motejos!
Grita: “Evoé, Baco, Evoé!”
Goza do mundo, vive a chistar
Usufrui de tua juventude, realiza desejos:
Pois a vida, que escárnio, nada mais é.