Auto-análise e Auto-sugestão Ao Endopalhaço

I

Pândego não és mais:

Cansaste de tuas próprias momices.

Em nova depressão cais:

Cansaste de viver eternas mesmices.

Em facécias não vês encanto.

Tornaste-te um doidivanas:

Agora crês em falacioso santo,

Esqueceste-te das pilhérias mundanas!

A lágrima agora é parte de teu semblante.

Não és mais ardil, velhaco:

És palhaço sorumbático, taciturno.

Sofres o bombear lancinante

De um coração sem vigor. És fraco,

Andarilho atroz, soturno.

II

Veste teu traje arlequinal!

Ergue teu malabar aos céus.

Livra-te do inferno astral!

Vive ao léu.

Pois não há piores visões, senão aquelas

Dum nobre circo sem cores

E dum mambembe palhaço sem donzelas,

Ambos sem vida, sem amores.

Não vivas a te mortificar:

Brinca, faze motejos!

Grita: “Evoé, Baco, Evoé!”

Goza do mundo, vive a chistar

Usufrui de tua juventude, realiza desejos:

Pois a vida, que escárnio, nada mais é.

Espectro Abissal
Enviado por Espectro Abissal em 06/05/2008
Reeditado em 14/08/2010
Código do texto: T977891
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