R E F L E X O

Vieram me dizer

que nessa fase da minha vida, tudo é um filme repetido.

É mentira!

Estive a me olhar no espelho:

me deparei com a transformação que a natureza se encarregou de operar:

(Na cabeça, onde antes havia uma vasta cabeleira, hoje posso contar os fios...).

Como um intruso, o corpo inteiro se revelou,

Mostrando que já não existe mais aquele viço da juventude,

nem o vigor dos poucos anos de existência.

Os olhos...

(onde está o branco a adornar o azul celeste que era verde de emoção, cinza de pavor... Onde está o vigor, ... o brilho?).

Hoje

Com a cumplicidade da pouca visão,

(nesse ponto ela foi generosa comigo)

escondo de mim mesmo os vincos que passariam despercebidos

sem ajuda dos óculos.

Mas aprendi

A colher sentimento maduros, a não “esperar...”

Aprendi

Que não mais preciso interromper o canto dos pássaros,

Quando nas manhãs, a cama me convida a ficar um pouquinho mais

(e eu aceito).

Aprendi

A não pensar que as horas não passam.

(para não vê-las estacionadas).

Que não mais preciso contar os minutos quando espero alguém.

(a mim pouco me importa se virá ou não).

Que a minha vida adquiriu o compasso de quem sabe que

“tudo passa...”

Mas as coisas boas ficam armazenadas no coração

até o momento em que, fraco e debilitado, ele sussurrar baixinho:

“- Chega! Vamos?”