CONSTRUÇÃO

Farta de concordância

desato o verbo e

exijo que as crianças

reconstruam o mundo

com a argamassa

do sonho e do riso.

Refaçam-se as metáforas

povoem os livros de flores

e enxotem as palavras

de ordem.

Acabem com os sujeitos ocultos

da guerra e seus objetos mortíferos.

Ressuscitem a alma das crianças

para chorar outras crianças

mortas, enfim inatingíveis por obuses

e por absurdos cruéis dos

monstros carnívoros,

senhores das frases duras,

das armaduras.

Procurem outros tempos

em que os verbos se conjuguem

no presente e no futuro,

traduzindo-se em esperança.

Apaguem as orações radicais

e em seu lugar deponham as armas.

Destruam as onomatopéias malignas

das balas tracejando em corpos

infantis e colorindo de vermelho

a infância e a juventude.

Desmontem os mísseis,

trocando-os por cartas de amor,

de amizade, de perdão.

Acendam a luz nos olhos

dos velhos, cansados de

procurar a mensagem

dos deuses em sangue e lágrimas.

Basta de antônimos,

queremos igualdade de termos

queremos construir juntos

os versos livres,

os versos límpidos da

PAZ!

Saramar
Enviado por Saramar em 07/10/2006
Código do texto: T258909